De onde vem e para onde vai a ideia?
Um texto é o produto final de um
processo que principia com uma ideia e
é finalizado com a palavra escrita; esta carregada de intenções e sentidos dirigida a um determinado leitor. Entretanto, a importância de uma produção textual não recai apenas no seu conteúdo, quem o escreveu possui um papel decisivo por ser, muitas vezes, uma referência que antecipa prováveis deduções sobre a obra. A divulgação do nome do autor de uma obra influencia o leitor na aquisição de um livro ou de um filme, na escolha de um espetáculo, na leitura de um texto seja ele científico, informativo ou literário. Como afirmou
Michel Foucaul:
“Um nome de autor não é
simplesmente um elemento em um discurso [...] ele exerce um certo papel em
relação ao discurso: assegura uma função classificatória; tal nome permite
reagrupar um certo número de textos, delimitá-los, deles excluir alguns,
opô-los a outros.”
Se for alguém conhecido e reconhecido dentro da sociedade, certamente terá sua produção mais valorizada. Alguns gêneros textuais contam com esse privilégio; outros não, como:
provérbios, panfletos, formulários, cantigas, alguns textos informativos, etc. cuja falta de autoria não os invalida, visto que há um discurso presente cumprindo seu papel social em cada um deles.
Por outro lado, o leitor também possui um papel significativo na produção do autor, pois é para este que aquele produz, criando-se, de certa forma, uma “cumplicidade” entre ambos. Um texto não possui um fim em si próprio, ele depende de um contexto, é motivado por um objetivo e direcionado a um leitor já predeterminado.Nesse conjunto de condições
e direções que suscitam uma produção
escrita, destaca-se, portanto, a relação estabelecida entre leitor e
texto, cujo autor, por sua vez, nem sempre exibe explicitamente uma ideia articulada; muitas vezes
sua intenção está oculta nas entrelinhas, só percebida após uma minuciosa análise discursiva.
Um exemplo que ilustra muito bem essa situação citada é a análise elaborada por Mónica Zoppi Fontana, a partir das orientações escritas em um painel eletrônico em uma determinada estação rodoviária, direcionada aos passageiros ou consumidores que ali estavam. Por trás daquelas instruções contidas nas palavras do referido painel, estavam inseridos discursos de inclusão (para uns) e exclusão social (para outros, estes denominado “estranhos”). Isso prova que não existe texto neutro quaisquer que sejam os tipos ou gêneros textuais utilizados.
Alguns discursos contidos nos textos, são mais sutis e podem passar despercebidos, necessitando,
nesse caso, de um olhar mais atento e crítico.
As leituras sugeridas pelo AVA, assim como o conteúdo dos tópicos acerca do tema, enfatizam, de um lado, o autor e sua relação com o texto nas condições de produção e, de outro, o leitor , na condição de receptor junto à prática de leitura. Todas
as indicações de estudo sobre a análise do discurso atuam como um alerta, pois estamos inseridos em um mundo moderno “bombardeado” por contínuas mensagens verbais e/ou visuais e precisamos desenvolver um olhar mais crítico para evitar a manipulação implícita contida nessas
“armadilhas textuais”.
Os avanços tecnológicos tanto contribuíram para a ampliação dos gêneros textuais como também facilitaram o acesso às informações e leituras. Conhecer mais obras literárias ou científicas ficou muito fácil: basta um
“clique”. A internet é um rico e poderoso instrumento na busca de qualquer assunto que se procura. Contudo, essa facilidade ampliou um problema que tem se agravado a cada dia: o plágio.
Muito diferente do conceito de
“mimésis” no qual copiar é apenas imitar e não há, necessariamente, um risco ou preocupação com esse método, o plágio é marcado por outra característica: consiste em apropriar-se do discurso alheio sem consentimento, com o objetivo de tirar vantagem de alguma forma como: ganhar credibilidade perante os demais, não precisar de esforçar muito para produzir um texto, fazer citações sem mencionar a fonte, dentre outros.
Inúmeros são os casos de textos que foram parar na justiça, porque estavam com sua autoria adulterada, e plágio é considerado crime com implicações de pena para os infratores, segundo afirmações no Código Penal Brasileiro, Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 sancionada no Brasil que regula os direitos autorais.
Outrossim, também em função dessa crescente prática negativa que ocorre, inclusive, nos meios acadêmicos, foi criada em uma universidade (UFF) uma cartilha explicando detalhadamente o que é plágio, quais os tipos e as consequências dentro da lei para aqueles que a cometerem. No conteúdo desse material há também orientações de como redigir corretamente um texto científico com o devido cuidado para não “ferir”
os direitos autorais de outrem.
Essa atenção
especial dada à autoria de um texto deveria ser seguida por mais
instituições educacionais, pois, ao
invés de elas se preocuparem somente com
a punição dos infratores, poderiam investir mais na boa preparação do
estudante, mostrando, inclusive, como o discurso individualiza e identifica um determinado autor através
do seu estilo, estrutura e gênero textual escolhidos. A partir de uma reflexão
adequada, a pessoa terá consciência de que é direito a qualquer um (até ele mesmo) recorrer à Lei quando se vê lesado por alguém que cometeu plágio de alguma obra sua, seja ela escrita ou visual.
Os maiores desafios de um professor não se aplicam aos conteúdos planejados que compõem o currículo escolar, mas sim na implantação de valores éticos e desenvolvimento do senso crítico nos seus alunos de forma a prepará-los melhor para o futuro. Na maioria dos casos, a escola é o principal local de acesso a livros e a textos (diversos) que cumprirão seu papel na formação do futuro leitor/escritor. Se não houver um direcionamento correto nesse sentido para que se valorize a legitimidade de uma produção textual, a pessoa corre o risco de banalizar esses conceitos e, gradativamente, usurpar trechos, citações ou até textos inteiros sem a referência autoral correta. Não é tão simples prevenir tal prática no meio estudantil, porém cabe ao professor algumas
atitudes que contribuem na atuação crítica e eficaz do aluno para que este se
torne, de fato, um autor, como: valorizar a escrita do aluno e orientá-lo dentro da exigência formal, ficar
atento ao corrigir os trabalhos entregues para
evitar possíveis plágios, pedir aos alunos uma exposição oral da
pesquisa feita, verificando assim o grau de compreensão do que pesquisou, sem
esquecer , obviamente, do devido mérito
contido nas referências bibliográficas presentes nas pesquisas, e outras
mais. Atitudes que apoiam e estimulam a
autoria reduzem as chances de progressão
desse mau hábito que se resume na cópia
literalmente dita.
O tema “plágio” foi longamente debatido no fórum
entre reflexões e relatos de várias situações concretas que ocorrem em sala de
aula. É um assunto atual, além de extremamente importante em
nosso contexto profissional, já
que é um dos “entraves” na educação, com o qual lidamos sempre. Inúmeros formam as
abordagens junto aos comentários dos professores, sempre mediados pela atenciosa tutora que, ora esclarecia, ora direcionava as questões mencionados para possíveis soluções e assim surgiram ideias de como evitar o problema do
“copiar”
e
“colar”, que embora ilegal, é visto como uma prática e rápida forma de realizar trabalhos escolares ou acadêmicos.
Convém citar alguns pontos marcantes sobre o referido debate: o professor tem que estar bem informado para falar com clareza sobre o assunto aos alunos porque perguntas serão inevitáveis por parte deles; os trabalhos entregues devem ser corrigidos e devolvidos; pesquisas apresentadas oralmente (seminário ou debate) confirmam se o aluno compreendeu ou não o assunto; o professor deve incentivar o aluno a elaborar seu próprio texto valorizando a sua criatividade e autoria; não é errado fazer citações desde que não ignore o autor; a intertextualidade estabelece relações com outros textos (como: paródia, paráfrases, resumos, resenhas, etc), diferente de plágio que faz apropriações indevidas; as redes sociais mais populares como o facebook, twitter representam um
“campo fértil” na divulgação de ideias alheias ou próprias, deve-se, portanto estar bem atento a isso e, se necessário, confirmar autorias suspeitas; apresentar aos alunos variedades textuais como clássicos e não clássicos, destacando a autoria e a importância de cada um na formação de um leitor crítico e conhecedor da vasta produção textual que o rodeia.
Além dos itens
mencionados que reduzem as possibilidades de o plágio surgir
como opção por parte dos alunos, não se pode esquecer, também, da figura do
professor , porque antes deste cobrar ou punir o aluno, deve dar o exemplo, atuando de forma coerente às exigências, pois não se transmite aquilo que não se possui; logo suas práticas como leitor e autor perante os alunos servirão como espelho
e isso implicará respeito e reconhecimento pelo bom trabalho
desenvolvido.
Referências
bibliográficas:
Disciplina LP004: Autoria, Efeito-Leitor e Gêneros de Discurso. Tema 2 tópico
3: Função-Autor e Efeito-Leitor.
Campinas, SP:
UNICAMP/REDEFOR, 2012. P. 01/08. Material digital para AVA do Curso de Especialização
em Língua Portuguesa REDEFOR/UNICAMP. Acesso em 12/03/2012.
FOUCAULT, M. O que é um autor? 2ª. ed. Lisboa: Vega Editora, 1992[1969]. Disponível em: http://fido.rockymedia.net/anthro/foucault_autor.pdf, acesso em 12/03/2012.
ORLANDI, E. P. Discurso, imaginário social e conhecimento. Revista eletrônica Em Aberto, ano 14, n. 61, jan./mar. 1994. Disponível em: http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/911/817. Acesso em 02/11/2010.
ZOPPI FONTANA, Um estranho no ninho: o jurídico e o político no espaço público urbano. RUA - Revista do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade-UNICAMP, número especial, p. 53-67, jul. 1999
UFF Notícias - Núcleo de Comunicação Social (Nucs ) Disponível em: http://www.noticias.uff.br/noticias/2010/11/cartilha-sobre-plagio-academico.php . Acesso em 12/03/2012
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