sábado, 26 de junho de 2021

CAROLINA EM VERSOS DE CORDEL

 

I

A nossa literatura,

com orgulho, apresenta

uma de suas autoras

com a visão mais atenta

aos problemas sociais

 e os descasos gerais

que o preconceito ostenta.

 

II

Sua vida foi marcada 

por esforços , sofrimentos,

humilhações, injustiças,

perdas, desentendimentos,

mudanças de residência,

ascensão e decadência,

e seus relacionamentos.


III 

Nascida em Sacramento

que fica em Minas Gerais,

filha de analfabetos,

cresceu em áreas rurais,

sua infância foi sofrida,

por ser negra e desprovida 

de posses materiais.


IV 

Acusada de ser bruxa

pelo muito que sabia,

pois estudou só dois anos,

bem menos que pretendia,

 Aprendeu o necessário,

leitura e  vocabulário

 viraram  prosa e a poesia.


Quando veio a São Paulo 

buscando a sobrevivência

morou no interior,

Adquiriu experiência,

Depois foi pra capital

pois era lá, afinal, 

o centro das referências.


VI 

Trabalhou como doméstica

com direito à cultura,

nas folgas, aproveitava

praticava a leitura.

Todo esse  conhecimento

trouxe base e fundamento

à sua literatura. 


VII

Sua condição humilde

a levou para a favela

Lá morou mais de 10 anos,

Viveu todas as mazelas,

Criou três filhos sozinha,

com os recursos que tinha,

frutos do trabalho dela.


VIII

Carolina de Jesus

fez das tripas, coração,

contra as adversidades:

pouco “SIM” e muito “ NÃO”,

nunca desistiu da luta ,

encarou toda a labuta

Sem perder a inspiração.


IX 

Sem apoio ou escolha,

fez das ruas sua renda,

catava ferros,  papéis 

e os levava para venda

Dessa forma, garantia

o alimento aquele dia

E o lixo tornou-se a prenda.


X

Nos cadernos recolhidos

Carolina aproveitou

transformou-os em diários

registrando o que a marcou.

Com toda a propriedade

expôs a dura verdade

e tudo que pode, contou.


XI 

Grandiosa mulher negra

poetisa e escritora

retratou fome e miséria,

não como espectadora,

Sem adorno ou fantasia,

relatou o dia a dia 

da vida de catadora


XII

Quem lê “Quarto de Despejo”

enxerga, com precisão,

o quanto a fome devora,

aquela população

que é  marginalizada

e totalmente ignorada

pelo sistema vilão.


XIII

Seus escritos explodiram

foi sucesso garantido

dentro e fora do país

o seu grito foi ouvido

Aquela oportunidade

a tornou celebridade,

Seu sonho foi atendido.


XIV 

A mesma sociedade

que sempre a rejeitou

quis compartilhar o brilho

e ao lado dela ficou

para fotos, entrevistas,

nos eventos elitistas,

que a fama lhe reservou.


XV 

Porém, todo esse glamour

efêmero e pontual

tem prazo de validade

bem menor que o ideal:

O tudo virou em nada,

sua voz silenciada

de forma tão desleal. 


XVI

A miséria e a fortuna

conviveram atreladas

como faca de dois gumes

drasticamente afiadas

machucaram as raízes

restaram as cicatrizes

para que sejam lembradas. 


XVII 

Mais uma vez a mulher

mostra uma superação

emergindo em campo infértil

semeia sua oração:

duela com o preconceito

luta pelo seu direito

e prova que tem razão.


XVIII 

Carolina de Jesus

autora e personagem

símbolo de resistência

Um ícone de coragem,

autêntica  , realista,

consciente, feminista,

A você, minha homenagem!

 

Zizi, 26/06/2021