sábado, 8 de junho de 2013

O gênero notícia em sala de aula

Pode-se considerar a leitura e a produção de textos como práticas sociais mais trabalhadas no âmbito escolar  por estarem intrinsecamente relacionadas à aprendizagem da língua. Enquanto o aluno não possuir certo domínio da leitura e escrita, os demais conteúdos tornam-se secundários. Assim, quanto maior  o contato com a diversidade textual (tipos e gêneros), melhor preparo ele terá para compreender (também) o que está além das letras:  o objetivo, as intenções, o contexto de produção, o público alvo, a peculiaridade do autor, o discurso, a estrutura formal, os recursos semânticos, estilísticos e pragmáticos. Com todas as habilidades e competênciasafiadasquanto ao ler e escrever, um passivoledor” passa a crítico leitor.
 Desse modo, uma lista imensa de conteúdos à espera de serem assuntos da aula. A pertinência, porém,  é palavra-chave que guia um plano de aula e decide, entre tantos, por trabalhar um determinado gênero que permite uma melhor compreensão do uso da língua padrão, sobretudo em seu aspecto discursivo, textual e linguístico.
O gênero notícia, por exemplo, por pertencer a todas as esferas sociais e aparecer em diferentes mídias (rádio, televisão, internet e impresso), é um veículo de comunicação de fácil acesso e possui um vasto campo a ser explorado. Atividades diferenciadas podem ser aplicadas em sala de aula com os alunos, contemplando diversos aspectos como: sua estrutura formal (título, subtítulo, lead, corpo, legenda) no qual os alunos tomam conhecimento de como uma notícia é elaborada e as divisões formais que a constituem, podendo depois dessa aquisição de conhecimento, criarem eles mesmo suas próprias notícias numa elaboração de um jornal feito pelos alunos; linguagem(culta, objetiva, concisa, impessoal, pessoa, frases na ordem direta,). É importante eles estarem atentos à norma culta que deve constar nos textos jornalísticos que eles escreverão; aspectos gramaticais no título( verbos no presente, ausência de: artigos, advérbios e  adjetivos). Essa atenção especial às palavras que aparecem no título é de extrema importância para chamar a atenção sobre os fatos e isso os alunos deverão estar bem atentos quando forem montar o próprio jornal;  veracidade nas informações (nomes, endereços, imagens), outro ponto extremamente importante que não pode passar despercebido, afinal uma das principais características de uma notícia é justamente o relato objetivo e verdadeiro de um fato ocorrido; discurso (ideológico, político, etc), seleção proposital de palavras que emitem juízos de valor(adjetivos, substantivos, verbos). Os alunos tendo todas essas noções, conseguirão ler “nas entrelinhas” e tornar-se-ão leitores mais críticos.
Apesar de todos esses itens mencionados se aplicarem, especialmente, à notícia impressa, é possível uma análise detalhada também nas demais modalidades, pois todas carregam sua peculiaridade, como tão bem descreveu Silmara  em seu  texto “A Notícia em diferentes mídias, numa leitura simples, objetiva que propicia um entendimento melhor sobre a atuação e caracterização de cada tipo de mídia.
 No rádio, por exemplo, a notícia é transmitida pela voz  em tempo real, o texto segue a norma padrão e é conciso e objetivo. Na exposição verbal dos fatos, podem ocorrer alterações no tom de voz de quem lê, quando  pretende enfatizar algum ponto, ou ainda fazer algum comentário. Prevalece nesse caso a linguagem verbal.
Por outro lado, a notícia através da televisão conta com mais recursos: verbal e visual, sonoro, além de outros e isso atrai os telespectadores. Os apresentadores não se limitam a apenas informar os fatos, eles os interpretam com o intuito de influenciar quem assiste.
A notícia através da  internet é instantânea e  conta, além da linguagem escrita e a visual, com hipertextos e links que direcionam a outras informações.
Outro trabalho que desenvolve o senso crítico e também pode ser realizado com os alunos levando em conta as diferentes mídias é o da comparação. Por exemplo: pedir a eles que assistam jornais (orais e escritos) e tracem perfis comparativos apontando vários aspectos: o discurso empregado, as ênfases dadas às notícias, os recursos utilizados para chamar a atenção do leitor/espectador, o nível de objetividade e de subjetividade mostrado em cada uma pelo apresentador/jornalista, a quantidade de imagens e entrevistas referentes ao fato, dentre outros. 
Em suma, o aluno vai perceber mais claramente que uma mesma notícia pode adquirir estruturas e perfis diferenciados de acordo com a mídia a qual ela foi expressa, pois cada meio de comunicação possui um autor específico, um objetivo, um público alvo, um contexto determinante que serão levados em conta  na elaboração do discurso  através do texto. Segundo  afirmou Orlandi:
os gêneros de discurso são práticas discursivas sobredeterminadas, ou seja, é no acontecimento da enunciação que as regularidades historicamente sedimentadas e as rupturas e transformações possíveis se configuram, na produção do texto, de um modo específico em relação a suas condições de produção.

É fundamental que o aluno não só conheça como tenha um contato mais direto com o assunto “notícia”  e isso é possível a partir das atividades desenvolvidas com eles e por eles. Só assim, saberá utilizar adequadamente os tipos e gêneros textuais, conhecerá o processo discursivo que os acompanha assim como a sua circulação nos meios sociais. Tal conhecimento não deve ficar limitado a uma mera classificação estável; pois os gêneros são dinâmicos, heterogêneos e extremamente inquietos, como seres em constante evolução que contam com uma  nossa cumplicidade e companhia para continuarem se reproduzindo.




Referências bibliográficas

ORLANDI, E. P. Sobre Tipologia de Discurso. A linguagem e seu funcionamento. As formas de discurso. Campinas: Pontes, 1987, P. 217-238.

SILVA, Silmara Dela. A Notícia em diferentes mídias. Disponível em:  http://ggte.unicamp.br/redefor3/cursos/diretorio/apoio_503_45//A%20NOTICIA-SILMARA%20%281%29.pdf?1332801939. Acesso em 26/03/2012


LP004. Gêneros Discursivos. Tema 3. Tópico 2: Funcionamento dos gêneros: marcas e propriedades. Campinas, SP: UNICAMP/REDEFOR, 2012. P. 01/17. Material digital para AVA do Curso de Especialização em Língua Portuguesa REDEFOR/UNICAMP. acesso em 07/04/2012.


Acesso em 26/03/2012

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