domingo, 10 de julho de 2011

Tema: A volta ao trabalho


NÃO TEM PREÇO!!
Estudar e trabalhar: dois verbos que eu conjugava no presente  ao mesmo tempo em que planejava o futuro. Dois objetivos que eu não abria mão porque representavam, para mim,   garantia, conquista e estabilidade nesse mar de desafios e concorrência à toda prova.
Confiante de que meu enredo  estava em desenvolvimento e encaminhando-se para o desfecho, fui surpreendida, um certo dia sem aviso nem pedido de permissão,por um intruso, vulgarmente conhecido como amor . Entrou disfarçado de paixão no meu “mundico” e revirou todo o baú , até obter o avesso da situação. Como se não bastasse, ordenou “Recolhe tudo de volta e organize numa outra sequência”.
Foi assim que meus planos tomaram outro rumo, influenciados e conduzidos  pela química  efervescente da flecha do Cupido  (esse invasor de coraçõezinhos  indefesos).
Demitida  do último emprego pelo simples fato que iria casar em breve (Não tinha nenhum  sentido esse motivo, contudo  era  critério da empresa. Quem  ousava  encarar o Vilão-chefe-mor  e tomar uma atitude? Euzinha da Silva?)  Minha revolta e Nada tornaram-se sinônimos. “Passa...arrumo outro emprego, pensei...” .
Nem houve tempo de replanejar. Logo  recebi a visita da Cegonha,  que deve ter apreciado o meu cafezinho e se sentido muito confortável no aconchego do meu cantinho, porque  retornou rapidinho-rapidinho com outra encomenda no meu endereço. Agora não era somente um, mas dois pequenos para eu cuidar: um laço duplo dificultava meu voo de retorno ao trabalho.
Adormeci  ou arquivei  tal ideia  por um determinado tempo, já estava tomada pelo encanto de ser mãe e desse modo empenhei-me na nova missão que já consumia meus dias, noites, madrugadas...
Foram sete anos de dedicação plena e exclusiva  os quais vivi experiências  que não tem preço: pude acompanhar passo a passo o desenvolvimento de ambos:  a amamentação;   as primeiras palavras;  os primeiros passos;  as descobertas do espaço e dos objetos à sua volta,  as primeiras quedas; o embalar para dormir; as vacinas;  todos os banhos;  as caminhadas ao sol matinal; os passeios no carrinho; os choros provocados pelas dores de barriga e os chazinhos para amenizá-los; os carinhos; os beijos;  as babadas;  todas as trocas de fraldas recheadas , ora pelo número um, ora  pelo dois; as assaduras amenizadas com pomadas; as brincadeiras no chão, as risadas gostosas;  os gritinhos-surpresa; as leituras de livrinhos;  o pega-pega em volta da mesa e no quintal; os choros de manha,  os “dodóis”,  injeções,  as festinhas de aniversário, o nascimento de cada dentinho e a troca deles depois...
 Um misto de prazer,  compromisso,  cumplicidade e interação formava esse nosso mundo. Não sei bem se era eu quem brincava com eles, ou se eu era o brinquedo deles . Que delícia!! [...]

Empolguei-me tanto que esqueci  de contar que eu não estava sozinha nesse ambiente. Além do maridão-corujão,  havia os apaixonadíssimos  avós paternos e a tia que  não arredavam o pé.  Mesmo assim,  nesses primeiros anos, eu optei por ficar ao lado e partilhar cada detalhe do crescimento e desenvolvimento dos meus rebentos.  Aquele momento que eu estava vivendo era único e eu não queria, em hipótese alguma,  perder.  Os outros verbos que esperassem...que  entrassem na fila!!
Quando eu senti que estavam menos frágeis, mais crescidinhos,  já sabiam falar, contar “causos”, pedir ajuda, obedecer...  Abri  minha gaveta e busquei  meu antigo sonho e o vesti. Ainda me cabia, olhei no espelho e enxerguei  as conquistas a realizar que, pacientemente me aguardavam. Agora sim,  dava para conciliar as coisas, apesar de estar consciente de que tal decisão  acarretaria-me  múltiplas funções.
Foi difícil desvincular da rotina, doeu muito, pois eu já me habituara a ela. Primeiro fui trabalhar, em seguida voltei  a estudar, fiz faculdade e formei-me professora. Comecei a lecionar desde 1993. Meus pequenos ficaram com os avós paternos. E não poderia ser melhor.  Só assim eu conseguia concluir meu curso, sabendo que eles estavam em excelentes mãos, com pessoas que também os amavam e os priorizavam.  Os avós são mesmo anjos de plantão, eu sou testemunha disso...
Hoje, aos 49, ainda na batalha da sala de aula e de olho na aposentadoria, sei  que se não houvesse feito aquela “pausa” de sete anos, eu já estaria aposentada, pois meu primeiro registro em carteira foi aos 14 anos.  Contudo, não me arrependo.  Valeu a pena  por eles, por mim, por nós, pela nossa família e esse valor não há preço que pague!!

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