sábado, 29 de outubro de 2016

Ele corre para o mar, ela foge do mar


 Ahhh, o mar!!  Tão imenso, desafiador, poderoso, imponente, assustador, forte, mágico, complexo, fascinante, inspirador... Conhecê-lo,  é mais que uma aventura, é a concretização de uma expectativa construída a partir dos primeiros anos da  infância.  As imagens vistas nos livros, revistas, jornais ou televisão, já despertam um desejo de conhecê-lo e de caminhar na areia sentindo as pequenas ondas roçando nos pés,  e depois, entregar-se, sem resistência, ao mergulho naquela vastidão de água salgada.

Nos esboços imaginários tudo parece exato e perfeito. É como estar diante de uma receita de guloseima e não ver a hora de prepará-la,  para depois de pronta,  saborear, tranquilamente, cada bocado ou fatia,  sentindo o gostinho do infinito...

Chega, enfim, o dia em que os ensaios fantasiosos tornam-se experiências reais e memoráveis. Principalmente quando essas idas aconteceram poucas vezes. Conheci a praia e o mar na adolescência, em uma daquelas excursões de bairro que aconteciam todos os anos, especialmente no período das férias escolares.  Amei! 
Na  segunda vez,  aos 22 anos, já era casada e mãe do Danilo. Queria apresentar a esse inquietíssimo menininho loiro,  a grande água, pois até então só conhecia o precioso líquido que jorrava  da torneira, chuveiro, ou mangueira e caía em uma pequena piscina particular conhecida como banheira em sua casa. Ele precisava saber que aquilo tudo representava  uma gotinha,   se comparada à imensidão azul que desliza suavemente sobre as areias da praia.

Danilo era bebê, tinha menos de um aninho de idade, brincou e se divertiu um pouco na água e na areia,  muito bem acompanhado e monitorado por mim, pelo pai, avó, avô, tia, primas... Acho que ele até pensou em dar um perdido em nós, mas ainda não tinha dominado a arte da Fuga. Cada proeza tem seu momento. Naquele, por exemplo, a aventura se limitava a mexer na água e na areia e pular,  de mãos dadas,  com as pessoas da família. 

Alguns anos depois voltamos à praia e,  desta vez,  tínhamos mais uma bênção para cuidar: a Patrícia.  Eu sabia como seria complicado olhar duas crianças na faixa etária dos quatro aos seis anos, por isso acionei o alerta em todos da família.

Danilo, reafirmando sua boa disposição para os desafios, explorou  sua  energia o quanto pode: corria pela areia, corria para o mar, queria nadar no fundo, queria surfar (compramos uma pequena prancha para ele brincar) Haja braços, pernas, gritos para acompanhar sua adrenalina. Fugia do protetor solar, fugia de nós...teimoso elevado a mil.
Patrícia, por sua vez, teve um comportamento inverso ao do irmão. Aceitou usar a roupa de praia, posou para as fotos,  deixou passar protetor solar, mas não quis saber de mergulhar na água salgada.  Limitou-se a molhar os pés na beira da praia e quando a onda vinha,  ela corria para fora da água. Tinha medo das ondas, essa minha “peixinha” tinha pavor das águas grandes (Pelo menos não deu trabalho algum, enquanto o irmão monopolizou os olhares atentos de todos nós...)

No final deu (quase) tudo certo: o passeio foi um sucesso, todos amaram e se divertiram, na medida do possível. A inconveniência que houve foi a exposição excessiva do Danilo ao sol pelo fato de não ter deixado repassar o protetor solar.  Sua pele é bem clara e avermelhou muito, inclusive suas orelhas chegaram a inchar. Só assim,  aceitou cremes e pomadas que aliviaram o incômodo das queimaduras solares. O mal estar passou, entretanto as marcas viraram pintinhas e ficaram registradas em suas costas para sempre.

Patrícia, depois de adulta,  revelou-me o porquê do seu receio com a água do mar. Contou que ouvira da avó, alguns dias antes do passeio à praia, uma história na qual uma pessoa conhecida quase fora levada pela força das águas do mar. E complementando tal relato, a d. Geraldina fez advertências aos riscos que o mar oferece dizendo que “ o mar tinha prometido a Deus que iria afogar os melhores nadadores e o Senhor não concordando, propôs um acordo no qual as pessoas deveriam ter três chances para se salvarem. Por isso que quando alguém está se afogando, ela afunda e emerge três vezes”. Segundo a Patrícia, a avó contou isso com tanta convicção que convenceu a minha filha a, praticamente,  não se aproximar do mar. Ela entrou em pânico.  Essa “orientação” foi tão forte que até hoje  há resquícios: quando ela vai à praia, evita entrar com água além das canelas, as palavras da avó ainda sopram em seus ouvidos e causam efeito, mesmo depois de 26 anos.

Aventuras e riscos, abusos e medos, divertimentos e preocupações...  Experiências válidas dos inesquecíveis passeios no litoral que renderam: nutridos relatos, saudosas lembranças, registros em fotos,  sabor de quero mais...


Zizi, 22/10/2016

Nenhum comentário: