quarta-feira, 29 de junho de 2016

Brinquedos são asas

Tema: O brinquedo preferido

Em qualquer época da história da humanidade o brinquedo foi algo indispensável para o desenvolvimento do ser humano. Meus pais contavam que, devido às dificuldades econômicas,  eles mesmos montavam os carrinhos feitos de madeiras, bonecas de pano ou de milho verde, além das brincadeiras inventadas que os divertiam muito.

As gerações posteriores não vivenciaram tais problemas dessa forma, pois a tecnologia em parceria com o capitalismo trabalharam juntos para oferecer às crianças um leque de possibilidades lúdicas, umas estimulando a imaginação, outras, nem tanto. Embora o objetivo geral do brinquedo seja o entretenimento, há uma função mais específica em seu manusear, cuja criatividade pode ser necessária ou não.

Durante algum tempo, vamos oferecendo aos filhos o que consideramos pertinentes à idade deles. Eu não descarto os carrinhos, bicicletas, pipas, bolas nem as bonecas e acessórios das casinhas, mas sempre simpatizei com brinquedos criativos ou aqueles que exploram a fantasia  da criança ao serem manuseados. Mesmo assim, não fui tão seletiva e mostrei várias opções, deixando (quando possível),  a escolha por conta deles.

Por isso,  minha casa nunca pareceu um centro cirúrgico, os brinquedos reinam...

Brinquedos intocáveis e guardados em caixas,  somente o período em que estavam nas lojas.  Depois que iam para o nosso lar, seu universo se estendia  aos cômodos e quintal e entravam em nosso contexto. Eu, ora participava das brincadeiras com meus filhos, ora fazia valer a autoridade materna, solicitando a organização daquela bagunça colorida e deliciosa.

O Danilo possuía muitos brinquedos os quais somente viviam seus minutos de glória e  prioridade no momento em que os ganhavam, ou seja, ele não se importava em vê-los nas mãos de outras crianças, não era possessivo,  tampouco cuidadoso com os seus pertences. Gostava de brincar com alguém e não sozinho. Havia os tradicionais (carrinhos, bolas); sonoros (instrumentos musicais e outros) e os mais moderninhos:  lúdicos (jogos e de montar); bichos, trenzinho e carros de controle de remoto e/ou à pilhas, livros-brinquedo, espadas, vídeo-game... Quando ganhou o primeiro triciclo ele ficou encantado!  Pedalava de um canto para o outro em movimentos circulares fazendo peripécias com essa nova aquisição. A meu ver,  foi o brinquedo que ele demonstrou mais entusiasmo. Depois, veio a bicicleta para umas voltas e aventuras pelo bairro.
 
Entretanto, ao perguntar ontem qual sua preferência em relação aos brinquedos que tivera, surpreendi-me quando afirmou que era o trenzinho movido à pilha. Faz sentido: ele sempre foi fascinado por velocidade. O tal trenzinho sobreviveu heroicamente à infância e adolescência do Danilo.  Aos vinte anos foi pai,  e seu filho (Gabriel) também  usufruiu desse privilégio (com restrições, é lógico!).

A Grande Miúda Patrícia teve os mesmos mimos do irmão em relação à diversidade de brinquedos, porém acrescentando: carrinhos e outros acessórios das “tantasss” Barbies e outras bonecas,  muitos bichos de pelúcia; móveis de madeira para brincadeiras de casinha; a indispensável bicicleta, livros-brinquedo, canetinhas para riscar as bonecas e as paredes, etc. Tinha acesso a todos os brinquedos do irmão e às vezes brincavam juntos (até desencadear uma briguinha básica). Existe até hoje em casa uma boneca que ela deu o nome de Viviane (em homenagem a uma vizinha que ela gostava muito) e foi a única não doada. Contudo, quando perguntei a ela qual o brinquedo que marcou sua infância, respondeu que era aquele que mais estimulara sua imaginação e por isso a carregava sempre consigo: a casinha da Ninoca. E explicou que se divertia muito ao criar as roupas de papel e vestir a Ninoca,  reinventando situações na casinha e compartilhando as emoções. Esse livro-brinquedo foi adquirido uma vez em que fomos juntas a editora Ática e, enquanto eu  escolhia uns livros, minha filha apaixonou-se pela novidade e eu lhe dei de presente.

Há outro fato marcante referente ao tema com outro protagonista:  o Gabriel, meu neto. Os brinquedos que ele possuiu e possui representam, em média, o dobro em relação ao pai e à tia. Nadava em brinquedos variados, porém quando pequeno sua paixão pelos dinossauros era impressionante. Conhecia todos os tipos e características de cada um, sabia tudo sobre esses gigantes e antigos habitantes do planeta. Dizia que seria paleontólogo para saber mais sobre eles. Em casa tropeçávamos em dinossauros por todos os cantos: brinquedos, livros, filmes, revistas, desenhos, etc. Gabriel foi levado a exposições desses bichos para saciar sua curiosidade e encanto. Uma das suas festas de aniversário teve o tema e não foi nada fácil conseguir montar. Com o tempo, ele se interessou por outros assuntos, aderiu à tecnologia (adora jogar no computador e vídeo-game), mas até hoje quando vê algo sobre dinossauros fica atento. Pensei que esse fascínio faria do dinossauro seu favorito e me enganei novamente:  ele esclareceu que o Lego é o melhor brinquedo. Deve ser pelas infinitas possibilidades de criação: montar, desmontar e remontar. Um brinquedo que não possui um fim em si mesmo, ele é um instrumento para a imaginação voar quantas vezes forem necessárias.

A infância, esse período do possível, atua de forma mágica, pois capacita a criança a lidar com o mundo adulto. Ao brincar, ela reflete suas experiências de vida e consegue reconstruir sua realidade a partir do seu olhar e dos seus anseios. Os brinquedos vão além do entretenimento: são companheiros que auxiliam na compreensão de si, do  mundo  e das  demais pessoas. Não é justo negar aos filhos esse direito...


Zizi, 25/06/2016

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