sábado, 8 de junho de 2013

Tecnologia e aprendizagem: uma possível junção

O objetivo deste texto é apresentar uma reflexão sobre o uso das TICs no cotidiano escolar, observando, de um lado, até que ponto a chegada da tecnologia à escola contribuiu com as práticas pedagógicas que visam à aprendizagem e, de outro,  analisar  as informações considerando tanto os resultados de uma pesquisa empírica realizada com um determinado número de alunos da 8ª série º do Ensino Fundamental, que investiga  o contato  deles com as novas tecnologias, quanto os relatos e comentários ocorridos durante o debate no fórum sobre o mesmo tema.  
O próprio termo de origem grega  “tekhne” (técnica) vinculado à “logia” (estudo) já evidencia, desde os tempos remotos até os atuais, a constante busca do homem pelas tecnologias. Com o mesmo intuito, a música “O Silêncio”, de Arnaldo Antunes descreve várias tecnologias que surgiram ao longo da historia da humanidade  relacionadas à comunicação e informação. Em um breve olhar histórico pelo desenvolvimento da linguagem, destacam-se a  origem da escrita e a era digital, esta última tão divulgada e polemizada nos dias atuais.
Nesse sentido, a chegada e permanência da tecnologia no contexto escolar implicaram desafios diversos, tanto nos aspectos positivos quanto negativos. Ao mesmo tempo em que os apetrechos modernos facilitam  a comunicação e a interação devido a rapidez do acesso a elas  e dessa forma representam um grande aliado à aprendizagem  porque cria novas formas de aprender, ele representa também um campo vasto para que a pessoa se disperse do foco e seja manipulado por outros interesses (aparentemente) mais tentadores e (possivelmente) perniciosos.
Acerca desse mesmo tema ocorreu o debate entre professores de Língua Portuguesa no fórum, cujas discussões foram bem significativas, pois conseguiram retratar as ações e reações que ocorrem atualmente no contexto educacional. Os professores não negam nem ignoram o quanto a internet,  computador,  televisão,  vídeo, retroprojetor, celular e outros instrumentos tecnológicos são ricos suportes pedagógicos capazes  de contribuir para o desenvolvimento de habilidades e competências nos alunos.
Entretanto, entre o ideal e o real há uma distância. As escolas, sobretudo as do ensino público,   caminham em ritmo mais lento que o avanço da ciência; elas estão ainda em fase de adaptação frente a essas tecnologias. Há problemas diversos como:  ausência de  espaço disponível ou adequado, insuficiência de  equipamentos em relação a quantidade de alunos, manutenção irregular desses aparelhos, faltam cursos de capacitação para professores, nem sempre há um profissional para orientar e auxiliar nas dúvidas de manuseio dos aparelhos e outras tantas falhas que dificultam ou impedem essa “parceria” entre tecnologia e professor.  Este se vê obrigado a criar novas estratégias, reformular metodologias ou simplesmente recorrer ao “velho e infalível método” do giz e lousa para dar sequência ao seu trabalho.
Tal realidade confirmada pelas palavras sábias de Marcuschi:
"Para ser mais justo, deveria dizer que o que se deu até hoje foi a entrada do computador na escola (e, na maioria delas, apenas um que vem sendo usado pela administração), mas não seu uso com objetivos educacionais. Isso até por razões práticas, pois não são suficientes para servir sequer uma turma. Portanto, o que entrou na escola foi uma ideologia e não um instrumento. Vale a pena refletir sobre o instrumento e seu uso porque essa questão está andando mais depressa do que imaginamos." (MARCUSCHI, 2001, p.81)


É evidente que esses empecilhos citados no debate atuam de forma contrária na aquisição de novos conhecimentos porque impedem que os propósitos educacionais vinculados aos avanços modernos sejam alcançados de forma planejada e assim a educação continua atrasada e dependente de recursos obsoletos. No entanto, os problemas referentes ao uso da tecnologia em sala de aula enfrentados pelos professores não se resumem à falta de organização do espaço,  manutenção,  escassez de recursos e falta de capacitação. Há, em particular,  uma parte que diz respeito aos alunos, de como eles se portam diante do atual contexto.
Essa nova geração, de certa forma, foi privilegiada por terem nascido em plena era digital e por isso não passaram por dificuldades em lidar com as diversidades tecnológicas. Aliás, percebe-se até certa relação de “cumplicidade” entre eles, tamanha é a facilidade com que manuseiam os aparelhos. Em contrapartida, boa parte de seus professores viveram metade de suas vidas sem essas modernidades e somente depois procuraram se atualizar para acompanhar a evolução inserindo-a no dia-a-dia como recurso profissional. 
Para os jovens não existem fronteiras entre eles e a tecnologia, principalmente com o uso da internet, pois representa uma porta aberta à liberdade de expressão e de interesses pessoais. A aquisição de aparelhos, principalmente o celular, por ser mais acessível financeiramente, é algo essencial, como se representasse uma questão de honra para eles. Munidos de aparelhos celulares, já lhes garantem uma inserção no mundo tecnológico. O que falta para essas pessoas é saber associar sua habilidade direcionando-a a sua formação intelectual.
Eles vivem conectados, mas, em primeiro plano, dão preferência às diversões e/ou entretenimento, interagindo com amigos ou desconhecidos presentes nas redes sociais (como Orkut, faceBook, Twiter, MSN, etc) e em função desse contato usam uma linguagem peculiar denominada “internetês” que muitas vezes sai do espaço virtual e invade a sala de aula em produções de textos; participam, individualmente ou em grupo, de jogos  virtuais; acessam as ferramentas de busca para encontrar as músicas, vídeos ou imagens que os interessam; enviam e recebem SMS constantemente; tiram fotos; filmam cenas (reais ou simuladas) até dentro da sala de aula e as expõe no Youtube; em última estância pesquisam temas escolares.  Os alunos não se separam do celular durante as aulas e criam resistência às normas disciplinares nas escolas quanto à intolerância de quaisquer aparelhos eletrônicos que não estejam relacionados ao contexto escolar. Esse tipo de situação acontece todos os dias. Eles procuram disfarçar, escondendo os aparelhos e fios por debaixo das roupas, capuzes, toucas, dentro das mochilas ou nas bolsas de lápis, etc e, desse modo, ficam totalmente alheios aos objetivos da aula com essas atitudes rebeldes e perdem, portanto, aquisição de conhecimento.
Situações similares foram relatadas  por vários professores durante o debate no fórum, porém houve também aqueles que apresentaram outros depoimentos com base em experiências positivas em sala de aula que conseguiram com os recursos tecnológicos disponíveis em cada escola. As trocas foram significativas e acrescentaram mais ideias e otimismo aos integrantes para a continuação  do duro desafio que é  ensinar nos dias de hoje.
Além das informações oriundas do debate sobre o tema, outra fonte trouxe-me mais dados que confirmaram minhas expectativas quanto o acesso e os respectivos objetivos dos alunos ao mundo digital: uma pesquisa realizada com alunos de uma 8ª série (em uma escola pública onde trabalho) mostrou que a maioria tem acesso à internet através do celular ou computador. Dos 27 que responderam ao questionário, 25 têm celulares e 24 possuem computador em casa com acesso à internet, além daqueles que frequentam lan houses ou centros públicos com acesso gratuito à internet. Quanto à finalidade de uso,  não difere do perfil aqui já apresentado. O que mais os motiva e os mantém conectados são as interações com outras pessoas através das redes sociais e as demais formas de entretenimento possíveis. Eles não encaram o celular ou computador como uma ferramenta educacional, apesar de utilizá-los em pesquisas, quando solicitadas.
Apenas proibi-los ou criticá-los pelo uso indevido de celulares e computadores não resolve o problema. Devem-se propiciar situações em sala de aula que incluam o uso desses aparelhos, explorando os recursos que eles possuem como: pesquisas direcionadas, apresentações de trabalhos em vídeos ou telões com efeitos de palavras, sons e imagens, etc. Em atividades para casa, há mais alternativas: o contato entre professor e aluno pode também ser por e-mail; ou então algo mais interessante como a criação de um blog pelo professor no qual contenha: informações de conteúdo, imagens diversas, atividades variadas, vídeos relacionados aos temas trabalhados em sala, dicas de leitura, sugestões, curiosidades, exposições de trabalhos dos alunos no blog, etc.  E mais: ao invés da tradicional “lição de casa” copiada na lousa, o professor passa o endereço do blog aos alunos e anota a atividade sugerida para que eles a encontrem no espaço virtual e a desenvolva (Plano parcialmente em ação desde julho/2011: www.portaldazizi.blogspot.com).
Logo, uma intervenção do professor que implique mudança de atitude tanto dele quanto dos alunos torna-se necessária e urgente para alterar essa realidade.  Em primeiro lugar usufruir sim, mas de forma consciente, dessa tecnologia no processo ensino-aprendizagem, não utilizando apenas por modismos ou recurso alternativo e sim desenvolver seu uso crítico e reflexivo, visando à ampliação do saber por meio dos diferentes recursos tecnológicos que potencializem a aprendizagem. Só assim todos ganham e a vitória é coletiva.




Referências Bibliográficas:

PEREIRA, V.A.. Multiletramentos, linguagens e mídias.  Tema 01/Tópico 2: Das paredes das cavernas ao monitor. Campinas, SP: UNICAMP/REDFOR, 2012. Material digital para AVA do curso de Especialização em Língua Portuguesa REDEFOR/UNICAMP.  Acesso em 03/05/2012


Tecnologia na escola. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/2sf.pdf

Acesso: 04/05/2012

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