sábado, 8 de junho de 2013

A espetacularização midiática de cada dia

 Este texto pretende discorrer e refletir sobre a relação intrínseca entre a linguagem, a cultura e  a mídia, e de que forma elas se inserem nessa realidade digital e tecnológica caracterizada pelo  século 21, período também marcado pela globalização.
Os recursos tecnológicos adentraram os mais diversos espaços (casas, escolas, hospitais,  estabelecimentos comerciais e culturais, locais de lazer, etc.),  com uma proposta sedutora de facilitar a vida das pessoas e conquistaram, desse modo,  a confiança delas.
Até pouco tempo, cerca de 20 anos, a vida não era difícil sem os apetrechos modernos que hoje preenchem as prateleiras das lojas e os armários e as estantes das casas. Para muitos que nasceram nesse contexto, essa revolução tecnológica não os assustam, mas há outros que precisaram passar por um processo de adaptação.  Para esses, o “ajuste” é contínuo, visto que a cada dia novos termos são criados e,  junto com eles, as  possibilidades de construção de sentido se multiplicam.
Os gêneros textuais são um bom exemplo disso, pois eles representam toda e qualquer manifestação comunicativa. Segundo Braga; Buzato,2001,

                    Gêneros digitais são ferramentas semióticas e cognitivas que permitem às pessoas transformarem-se em sujeitos da/na cultura digital, capazes de utilizar sua linguagem produtivamente, para preservar ou modificar o mundo à sua volta. 

Se antes havia somente os gêneros orais e escritos; hoje, uma nova categoria está presente e ocupa um lugar significativo no espaço virtual: a digital, fundamental para a atuação dos blogs, sites, fóruns, ambientes virtuais de aprendizagem(AVA),Chat, Glossário, quiz, etc.  Dialogando com a maioria dos gêneros  digitais está a hipermídia,

 (ou multimídia interativa) [...] é o conjunto de meios que permite acesso simultâneo a textos, imagens e sons de modo interativo e não-linear, possibilitando fazer links entre elementos de mídia, controlar a própria navegação e, até, extrair textos, imagens e sons cuja sequência constituirá uma versão pessoal desenvolvida pelo usuário. (GOSCIOLA, 2003, p. 34)
termo adequado e preciso que surgiu concomitante  à era digital,  representada pelos  games, simuladores, os ambientes virtuais interativos, as multimídias interativas, os websites, mídias com filmes em DVD, dentre outros.   
Existe, outrossim,  a hipermodalidade que consiste em explorar bem os recursos visuais, sonoros, até mesmo o olfativo, palatal, tátill,  na criação e edição de vídeos que articulam bem o verbal e o não verbal.
Os vídeos de  Chico Science e Nação Zumbi Mangue Beat,   ilustram bem essa afirmação, sobretudo quanto ao aspecto visual e sonoro que produzem,  pois exibem um tipo de sincretismo cultural envolvendo:  dança, ritmo, música e vários  instrumentos musicais de origens diversas.  
Da soma de todo esse conjunto formou-se  uma nova tendência cultural  conhecida por “Manguebeat (também grafado como manguebit ou mangue beat) é um movimento musical que surgiu no Brasil na década de 90 em Recife que mistura ritmos regionais, como o maracatu, com rock, hip hop[1], funk e música eletrônica”. O ritmo alegre e bem dinâmico das letras e da música atrai  os jovens e o número de admiradores tanto do Brasil quanto do exterior tem aumentado.
Não há como negar a conveniente participação da mídia na divulgação das manifestações culturais populares. De um lado,  ajuda a preservar tais elementos e difundi-los em outros contextos geográficos, mas, por trás há um motivação maior, alimentada  pelo interesse financeiro em trazer para cá investidores e mais turistas.
A mídia consegue, inclusive,  manipular os pensamentos, as atitudes, os valores com imposições sutis recebidas passivamente pelas pessoas como verdades absolutas. Ela patrocina e transforma em espetáculo qualquer cena (das patéticas, bizarras, às emocionantes e belas) , desde que a favoreça. Segundo Trigueiro(2005), é a “espetacularização  das culturas populares ou produtos folkmidiáticos”.  Ele observa também que
Em outra perspectiva da folkcomunicação tenho  pesquisado  sistematicamente  os  processos  de  apropriação    e incorporação    das manifestações  culturais  populares  pela mídia  e,  em   movimento     inverso,   como   os protagonistas das culturas populares se apropriam  das  novas  tecnologias  para  reinventarem   os  seus  produtos   culturais.    Essas aproximações, das culturas populares e midiáticas no mundo globalizado são cada vez mais  intensas.

Devemos à globalização o livre acesso das pessoas às informações, sejam  de ordem econômica, social, cultural, política, através da Internet. Entretanto,   impossível captar todas elas. Segundo o filósofo francês Pierre Lévy, há um “dilúvio de informações”  e cabe às pessoas fazerem uma seleção do que realmente precisam ou interessam.
Em vista disso, há como aproveitar melhor essa “avalanche de dados e conhecimentos”, afinal, aprender a ser seletivo é uma necessidade do momento, ainda mais para profissionais da educação que vivem em busca de algo novo que “incremente” as aulas e traga bons resultados.
Um projeto interdisciplinar seria uma forma perfeita de apresentar o “Manguebeat” aos alunos, principalmente os de Ensino Médio. Como é novidade (para eles), certamente, despertaria sua atenção e participação nas atividades orais e escritas que viriam a seguir no desenvolvimento do projeto na escola.
Depois de assistirem aos  vídeos com algumas apresentações de “Manguebeat”, seria feito uma exposição oral para contextualizar os alunos. Em seguida,  cada disciplina trabalharia o tema dentro da sua área;  por exemplo: Arte exploraria o ritmo, a dança, os instrumentos; História  o contexto histórico de cada ritmo envolvido, festas;  Geografia focaria a expansão urbana dos respectivos ritmos;  Língua Portuguesa: as produções dos poemas musicados, sua estrutura,interpretação dos textos, significado do título do movimento, a linguagem dessas produções;  Educação Física: os movimentos que compõem as danças, etc. Esses trabalhos seriam expostos em um painel no pátio e também no blog da escola , utilizando, para isso,  os recursos disponíveis através da hipermodalidade e da hipermídia , explorando os gêneros digitais aqui mencionados.
Em suma, há infinitas possibilidades de agrupar e abordar em trabalhos escolares: tecnologia, internet, mídia e educação, de forma criativa e crítica,   garantindo, assim, um crescimento intelectual dos envolvidos (professores e alunos), com resgate de valores culturais desprovidos daqueles estereótipos que  reduzem o ser a uma mera coisificação.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

TRIGUEIRO, Osvaldo Meira.   A espetacularização das culturas populares ou produtos culturais folkmidiáticos.  Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/trigueiro-osvaldo-espetacularizacao-culturas-populares.pdf   Acesso 24/09/2012


BRAGA, D. & BUZATTO, M. Multiletramentos, Linguagens e Mídias - Tópico 2 – Interatividade, hipertextualidade e multimodalidade, do TEMA 2 – A linguagem nos/dos novos meios - Campinas, SP: UNICAMP/REDEFOR, 2012. P. 01/08. Material digital para AVA do Curso de Especialização em Língua Portuguesa REDEFOR/UNICAMP. Acesso em 24/09/12.

Vídeo Chico Science e Nação Zumbi Mangue Beat -  Disponível em:

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