Só quem dá jeito é Jesus:
De dia falta água
De noite falta luz
As padarias fechadas
As ruas pouco habitadas,
E nos cafés não tem nem cuscuz.
Quitaiús não mudou nada
Da época em que morei,
Tudo está no mesmo canto
Do jeito que eu deixei,
O tempo por lá parou.
Qual artista que pintou
Esse quadro? Eu não sei.
(...)
Valei-me, Nossa Senhora!
Que o moço embrabeceu,
Só por que brinquei em versos
Com a cidade onde nasceu,
Só morou lá alguns anos,
E depois mudou os planos,
E o lugar nunca cresceu.
Eu conheço esse rapaz
Desde que eu era criança
Nossos pais eram amigos
Da mais alta confiança,
Morávamos lado a lado,
No bairro acima citado,
Guardei todas as lembranças.
Por isso, posso afirmar
Com toda propriedade,
Faço parte de um contexto
Nutrido pela amizade:
Narrarei a sua história
Que carrego na memória,
Com precisão e verdade:
Um casal, nosso vizinho:
Virgílio e Idalina
Cuidavam dos seus seis filhos
E, em meio a essa rotina,
Trabalhavam no cartório,
A casa era o escritório
Com ordem e disciplina.
No cartório, Seu Virgílio
Trabalhava com atenção,
Elaborava os registros
De cada situação:
Óbitos e nascimentos,
Escrituras, casamentos.
Toda e qualquer certidão
A linha do tempo segue
E traz notável mudança:
Filhos crescidos, colégio,
Novos gastos e cobrança.
Outra fase iniciada
Para o voo da garotada
Voltado à liderança.
Quitaiús era pequena
Tinha pouco a oferecer,
Para concluir o estudo
E no futuro ascender,
Deveria ir embora,
Trabalhar e estudar fora,
Crescer e amadurecer.
Então, mudou de cidade
Para poder frequentar
Um colégio nível técnico
E assim poder estudar;
Tinha plano esse rapaz,
Sabia que era capaz
De um futuro conquistar.
Seu primeiro desafio:
Arrumar uma moradia,
Não conhecia ninguém
Pra compartilhar o dia.
Seu pai rápido conversou
E um cantinho ele arrumou
Na cidade aonde ele iria.
Foi morar com a família
Conhecida de seus pais,
Foi muito bem recebido
Teve apoio e tudo mais,
Como um filho foi tratado,
Por todos foi abraçado,
Teve direitos iguais.
Mas, não era só estudos,
Precisava trabalhar
Para bancar as despesas,
O lazer e namorar.
Seu sonho foi atendido:
Numa loja de tecido
Foi balconista exemplar.
Teve que se organizar
Com a nova realidade;
A fase adulta chegara
Com suas prioridades;
De dia, ele trabalhava,
À noite, ele estudava,
Que responsabilidade!
Seu Antônio, atencioso,
Com conselhos, o alertava:
A fazer escolhas certas
Nas estradas que passava:
"Ter em mente sempre o bem,
Sem prejudicar ninguém",
Seu exemplo motivava.
D. Raimunda, zelosa,
Cuidava com o coração,
Preocupada com tudo:
Casa, roupas, refeição.
Com carinho e doçura,
Consertava com costura,
Ficava uma perfeição!
As filhas deste casal
Foram se acostumando
A ter um irmão em casa,
E o tempo foi passando.
Cada uma com seu jeito,
Conquistou o seu respeito
E o vínculo foi formando.
A amizade prosperou,
Transformou-se em parceria,
Compartilhavam aventuras,
Curtiam a companhia.
Entre risos e risadas,
Brincadeiras e piadas,
Dividiam o dia a dia.
Deus encontra muitas formas
Para nos presentear
Muitas vezes são pessoas
Que o destino faz cruzar,
Chegam um dia, de mansinho,
Ficam em nosso caminho,
Para nos abençoar.
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