sábado, 25 de junho de 2022

HOLOCAUSTO BRASILEIRO


(Poema feito a partir da leitura do livro "Holocausto Brasileiro" de Daniela Arbex) 

I

Um pesadelo dantesco

Manchou o solo mineiro.

Barbacena foi o palco

De um flagelo sem roteiro,

Com personagens reais

E cenários surreais:

O Holocausto brasileiro.


II

Campo de concentração,

Travestido de hospital,

Denominada Colônia,

(“Instituição do mal”)

Sem critério recebia

Pessoas e as conduzia

Ao seu futuro letal.


III 

Chegavam de ferrovia

Um rol de indesejados:

Pobres, negros, militantes,

prostitutas, alcoolizados,

Pessoas sem documentos,

Homossexuais, detentos,

Crianças, doidos, lesados.


 IV

Obrigados a embarcar

Naquele portal do horror,

Cuja entrada era um adeus

A sua vida anterior.

Frio e fome era rotina,

Punição na indisciplina

complementava o terror.


 V

Com base na teoria

Da “limpeza social”,

A “escória” foi enviada

Àquele infeliz local,

Que mantinha um tratamento

Abusivo e fraudulento

Para o doente mental.


 VI

Pacientes submetidos

A experiências brutais,

Viraram cobaias vivas,

Sofreram choques fatais,

Passaram por cirurgia,

A tal da lobotomia

Que torna o ser incapaz

 VII

Seres humanos esquálidos,

Corpos nus desfigurados,

Rastejavam como bichos,

Zanzavam todos os lados,

Pisavam nas excreções,

Juntavam capim, colchões

E dormiam amontoados.


 VIII

Ratos, moscas, urubus,

Atraídos pelo odor

Conviviam e comiam

Com os doentes, sem pudor.

Nada mais era importante,

Tanta morte a todo instante

Banaliza qualquer dor.


IX 

A perda da liberdade,;

sem contato familiar,

A falta de humanidade,

Sem ter em quem confiar,

A identidade roubada,

A saúde estragada

Sem forças para lutar.


Tragédia silenciosa,

Que por décadas torturou,

Ceifou vidas inocentes,

Vários corpos traficou.

Faltou amor e respeito,

Sobrou ódio e desconceito

Que nutriu quem a apoiou.


 XI

São danos irreversíveis

que marcaram essas vidas,

chagas não cicatrizadas,

dores jamais esquecidas.

Vítimas da ignorância,

da omissão e da ganância

de profissionais genocidas.

 

 

Zizi,

24/06/2022


Um comentário:

Pati disse...

Maravilhoso texto. Nossa história precisa ser contada!