segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Negrinho do pastoreio

(Obs: Esse cordel faz parte de uma peça de teatro que insere personagens do folclore para o mundo real  para vivenciar situações de bullying)


I

Sou um grande personagem
Do folclore brasileiro,
Na lenda eu sou chamado
Negrinho do pastoreio.
Quem se lembra da história,
Se tiver boa memória,
Saberá o fato inteiro.

II 
Mas, não pensem que migrei
Da lenda ao mundo real,
Para ficar remoendo
Algo que me fez tão mal.
Não se muda o passado,
Tudo vira aprendizado,
E a vida segue, afinal.
 
III
Não gosto de confusão,
Sou uma pessoa do bem
Com boa disposição,
A procura de alguém
Pra firmar uma amizade,
Pois aqui nesta cidade
Eu não conheço ninguém.

IV 
Sou cabra lá do nordeste,
Vim da roça, do sertão,
Conheço as dificuldades
Pra conseguir ganha-pão,
O sertanejo é um forte,
Seja qual for o seu porte,
Preguiça, ele não tem não.

Viajei para São Paulo,
Buscar a sobrevivência,
Aceito qualquer trabalho,
Desde que tenha decência.
Peço uma oportunidade
De mostrar nesta cidade
Toda a minha competência.
 
VI
Mas, aqui fui perceber
Que estou em desvantagem,
As pessoas avaliam
Como é a sua imagem
Olham a cor ou etnia,
Tratam-nos com ironia,
Zombam da nossa linguagem.

VII 
Não nos chamam pelo nome,
Pois preferem apelidar:
Baiano, cabeça chata,
Isso é só pra começar.
Julgam que nada sabemos,
Não aceitam o que temos,
Recusam-se a respeitar.
 
VIII
São palavras e atitudes
Que alimentam o preconceito,
 Causando constrangimento,
Tirando-nos o direito
De ser livre pra escolher
Como e onde vou viver,
Sem mudar esse meu jeito.
 
IX
Deviam reconhecer
Que justo a diversidade
É que enriquece o Brasil
Na sua totalidade,
Pois aquele “diferente”,
É mais um ingrediente
Da nossa autenticidade.

 X
Minha pele e meu sotaque
Tornam-me especial,
Represento um povo forte
No contexto social,
Que ajudou a construir
E lutou pra conseguir
Este Brasil ideal.
 
 Zizi, 05/08/2018

 

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