sábado, 19 de novembro de 2016

Entre reclamações ou elogios, prefiro ambos!


As traquinagens dos pequeninos já renderam páginas e páginas de relatos. Eu ficava imaginando como esses dois  se portariam na escola quando chegasse o momento. Confesso que mil preocupações surgiam e faziam pouso em minha cabeça. Afinal,  meus dois docinhos eram ligados no 220, principalmente o Danilo.

Como eu parei de trabalhar para cuidar deles quando pequenos, não tinha pressa de mandá-los à escola. Pelo menos pensava assim no começo. Se dependesse dos meus planos, eles iriam somente aos 6 anos. Entretanto, as pessoas comentavam sobre a necessidade de as crianças frequentarem a escolinha para a socialização e preparo da futura vida escolar. Acabei concordando e providenciei o uniforme vermelho e os materiais para o loirinho peralta quando ele completou 04 anos. Ele até gostou, porque, embora tivesse que realizar algumas atividades, brincava bastante e se distraía com os novos amiguinhos. Nesse primeiro momento correu tudo bem e não havia nenhuma reclamação dele. Pelos vistos, o meu garoto era arteiro só em casa.

Nesta escola ele ficou até completar a idade para ingressar no Pré 3, que representava uma antecipação para o primeiro ano. Deu início, assim,  ao Ensino Fundamental 1 e 2 e, depois, ao Ensino Médio. Quando  pensei que estava tudo sob controle, eu fui chamada à escola porque ele havia levado de casa, sem permissão, um cadeado pequeno e durante o intervalo, correu atrás das crianças querendo prender o objeto na orelha de qualquer uma delas. Foi um alvoroço! Enquanto as crianças gritavam desesperadas, ele se divertia e corria mais ainda.

No Ensino Fundamental, certa vez, a professora pediu para as crianças contarem algum fato importante ocorrido em casa e o Danilo fez uma redação descrevendo um dia em que o pai, cansado de ver tantos brinquedos espalhados pela casa, disse que pisaria em todos eles e os quebraria se eles não os recolhessem e guardasse no local certo. Ele descreveu isso de uma forma tão dramática que a professora  ficou impressionada e nos chamou para mostrar a redação dele e pedir esclarecimentos sobre o provável nível de violência daquela cena. De certa forma fomos considerados pais “carrascos”, lógico que injustamente, pois o pai apenas tinha feito uma dramatização, um teatro e a criança não tinha maturidade para perceber isso.

Outra vez, fui parar na escola por conta do desentendimento do Danilo com alguns colegas, os quais  montaram um grupo para dar uma surra nele. Eu estava a caminho do trabalho e tive um mau pressentimento em relação a isso. Segui meus instintos e desci do ônibus, como se soubesse o que iria acontecer. Foi dito e feito. Eles esperavam lá fora para atacá-lo no horário da saída. Cheguei a tempo, fui conversar sério com eles e evitei o pior. O que um bom discurso de mãe não consegue?

A Patrícia, por sua vez,  não quis saber se tinha ou não idade para ir à escola. Quando percebeu que o irmão tinha aquele compromisso escolar diário e trajava um uniforme com uma cor que ela adorava, pediu, encarecidamente, para ser levada à escola também. Entretanto a pequena só tinha dois aninhos, era muito cedo para iniciar os estudos. Todos os dias, ela chorava inconsolada,  pedi, exigia e fazia campanha para ir à escola. Consegui segurar durante um tempo, mas depois decidi ceder aos apelos da princesa (Afinal, é tão raro uma  criança derramar tantas lágrimas por querer ir à escola! Deixe que sacie sua sede do saber...).

Patrícia, uma criança que se sentia adulta, ficou felicíssima e fez por merecer. Embora não abrisse mão dos brinquedos e brincadeiras, AMAVA estudar e manteve essa postura durante a pré-escola, o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e o Superior. Aluna nota DEZ ,  com um senso crítico aguçado, sempre atenta às explicações,  não se calava quando ouvia alguma informação distorcida ou falsa, era, portanto,  o terror dos professores despreparados.

Um dia, em uma aula de literatura, a professora explicou sobre “Dom Casmurro” na sala e fez um comentário pessoal sobre Capitu. Patrícia não concordou e entrou em debate com a professora, pois conhecia todos os detalhes da obra e era apaixonada pelo romance, assim como eu.

Outra vez,  soube que ela havia amassado e jogado no lixo uma avaliação que recebera . Levou bronca, é lógico,  porque jamais eu apoiaria tal atitude! Anos depois, revelou-me que fizera aquilo porque o professor cometeu uma injustiça com ela na sala de aula e sentiu-se humilhada diante dos colegas. Sua reação foi uma consequência da falta de ética do professor.

Houve, também,  uma ocasião em que a Patrícia foi orientada pela professora a reagir agressivamente às provocações de uma coleguinha de sala. Foi a única vez, que eu saiba, que ela bateu em alguém. Mesmo assim, eu não fui comunicada, do fato porque  a professora  foi sua cúmplice. Tempos depois, soube  pela própria Patrícia. Nem fui investigar o acontecimento porque sempre acreditei na coerência das palavras da  minha filha.

Aprendi que somente em casa, os filhos são prioridade; na escola as regras mudam um pouco porque são dezenas de seres disputando o mesmo espaço e atenção e não há como garantir cem por cento da aprendizagem. Aquilo é apenas um breve preparo do terreno durante uma fase que dará sequência a outra, depois, outra;  depois... Aplausos, as cortinas se abrem, entram e, com maestria, exibem o diploma,  nossos queridos profissionais. Quanto orgulho!!


 Zizi – 11/11/2016

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