sábado, 8 de junho de 2013

“Ensino de Português: origens das práticas e necessidades dos alunos hoje”

A Língua Portuguesa já foi, tantas vezes, tema inspirador em diversas produções  de poetas e de escritores. Geralmente esses textos costumam ressaltar a sua importância e valorizar o seu uso através de metáforas e personificações variadas, traçando um perfil subjetivo que refletem nela um caráter humano. Uma provável tentativa de provocar, no leitor, sua sensibilidade e despertar um maior interesse pelo seu código de comunicação. Mas, e o aprender desse idioma?

O ensino da língua, nos dias atuais, é um dos maiores desafios que o professor enfrenta. Vários são os motivos que dificultam o trabalho em sala de aula, destacando-se: a inadequação de uma clientela do século XXI com a estrutura educacional alicerçada em modelos arcaicos.
Embora tenham ocorrido consideráveis mudanças na organização e na estrutura educacional, não foi possível desenvolver e implantar, ainda, uma política educacional de qualidade que contemplasse, plenamente, as necessidades e os objetivos, tanto do público alvo (alunos), quanto dos profissionais que atuam na área da educação. Todas as revoluções educacionais nasceram da insatisfação pelo sistema que predominava naquele momento.
Muitos professores terminaram o Ensino Médio nos anos oitenta. Tiveram, portanto, uma formação escolar baseada nos critérios educacionais daquela época, os quais o professor era a figura central e representante do saber, que deveria passar seus conhecimentos a um número limitado de alunos.  Em contrapartida, hoje, esses profissionais lidam com disparidades. A começar pela excessiva quantidade de estudantes em cada sala de aula; a “desarmonia”, entre os direitos e os deveres dos mesmos e a estrutura educacional em crise, resultantes de uma má administração. Entretanto, por trás disso tudo, há um histórico a ser considerado:
O ensino da Língua Portuguesa, no início do século XX,  era focado na gramática normativa e na ortografia, desconsiderando, assim, pontos relevantes como o contexto sócio-histórico e cultural do aluno.  Depois disso, houve algumas alterações referentes à escrita e a produção textual.
Nos anos cinquenta, ainda se baseavam em um modelo arcaico adotado pelo colégio D. Pedro II, cujo foco resumia-se em: rigor gramatical, leitura e “quase” reescritas de obras ou trechos clássicos, seguidos (nas séries posteriores) de criações de narrativas, cartas, descrições e dissertações. Exigia-se do aluno a criatividade, mas, priorizando sempre a norma culta.  Não havia uma preocupação com o objetivo do texto, seu interlocutor e nem o ambiente onde iria circular. Desconsideravam, pois o processo significativo que daria sentido àquela construção.
 As duas décadas seguintes (anos sessenta e setenta) foram marcadas, principalmente, pelo grande acesso de alunos oriundos de classes sociais menos favorecidas, causando assim, uma mudança no perfil do alunado. Esse detalhe contribuiu para uma alteração no que diz respeito à parte didática-pedagógica.  A Lei 5692 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1971 estabeleceu para o ensino da língua materna, a disciplina “Comunicação e Expressão”. A ideia  foi absorvida também por editoras responsáveis pelo material didático, que enfatizaram o processo comunicativo nas atividades sugeridas. Mesmo assim, a denominação dos textos quanto ao gênero continuavam: narração, descrição e dissertação.
A partir dos anos oitenta, surgiram estudos mais aprofundados com relação aos gêneros textuais desenvolvidos nas escolas. Os autores destas obras os consideravam descontextualizados e por isso sugeriram que produzissem textos ao invés de escrever redações.  As  pesquisas linguísticas também enfatizaram a organização,  articulação  e o bom desenvolvimento do texto. Todavia, os aspectos formais estavam à frente de qualquer outra exigência.
Poucas, porém significativas, foram essas mudanças porque serviram como base e contribuíram, nos anos seguintes até os dias atuais, para um “amadurecimento” do ensino da língua. Da década de noventa em diante, autores como Bakhtin (1992), Schneuwly   &   Dolz   (2004),   Marcuschi   (2008), Miller (2009), Rojo (2008), Bazerman (2006), dentre outros, destacaram a importância  de se compreender os  gêneros textuais  e   sua pertinente utilização nas práticas sociais. 
Hoje, o papel da escola vai além de alfabetizar e ensinar a estrutura da língua materna; ela deve preparar melhor o aluno, apresentando, entre outros conteúdos necessários à aprendizagem escolar, a diversidade e a prática dos gêneros textuais que circulam dentro e fora do ambiente escolar e fazem parte da sua realidade. Não se trata de desvalorizar o estudo da língua em sua estrutura, leitura ou produção de textos, mas sim de torná-lo mais atraente, prático e significativo, independente da série ou idade.  

Referências Bibliográficas: 







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