sábado, 12 de novembro de 2011

Língua Portuguesa

Como e porque o ensino de Língua Portuguesa no Brasil passa de beletrista a  procedimental.

O objetivo desse texto é tecer algumas reflexões acerca do ensino da Língua Portuguesa no Brasil,  observando  seu contexto histórico-educacional do  século XIX,  cujo  modelo de ensino implantado permanecera  (quase) inalterado até metade do século XX.  Até esse período mudanças poucas e lentas aconteceram, embora  conservassem, entre elas,  um ponto em comum:  a prioridade com a norma culta da linguagem e a preferência pela leitura canônica,  visto que,  naquela época,  o ensino era voltado à uma minoria pertencente à elite,  e a “seleção homogênea” facilitava  tanto a organização estrutural do ensino como aplicação das  metodologias educativas.

Entretanto,  essa “estaticidade educacional” foi alterada  com o ingresso de um maior número de alunos oriundos das camadas menos favorecidas economicamente. As escolas deram oportunidades a todos, numa tentativa de reduzir e, quem sabe, eliminar  o analfabetismo, pois essa ignorância  nas letras impedia, de certa forma, o desenvolvimento do país. Em alguns anos já se obtinha uma redução significativa do número de analfabetos.

A nova demanda escolar caracterizava-se, principalmente, pela diversidade étnica-social-cultural e por isso não estava mais em sintonia com o antigo sistema educativo. Precisava ser levado em conta o novo perfil da clientela escolar que se formara. Tal detalhe acelerou as iminentes mudanças no sistema de ensino. A começar pela reorganização dos currículos em três áreas: Comunicação e Expressão (que abordava a disciplina Língua Portuguesa), Estudos Sociais e Ciências. Havia, ainda, outra área destinada ao ensino técnico que preparava a profissionalização.

A partir dessa nova divisão das disciplinas no ensino, cujos objetivos foram reconfigurados e dos novos perfis docentes e discentes, o ensino da língua materna começa a perder sua característica beletrista  e passa a procedimental.  Assim, toda a ênfase atribuída ao processo comunicativo estava diretamente relacionada ao contexto histórico  daquele momento: a valorização dos meios de comunicação, em especial a televisão e à mídia. Os textos que circulavam nesses veículos não eram literários, e, por isso representavam mais a realidade dos alunos do que o conteúdo de poemas e  romances tão apreciados outrora. A gramática também perde parte da sua força para práticas de leitura e produção textual. Foram meios de tornar o ensino-aprendizagem algo mais prático e ao mesmo tempo eficiente.

 Contudo, não é tão simples assim lidar com grupos heterogêneos e obter um bom resultado, visto que cada integrante já traz consigo uma marca lingüística, cultural, religiosa, social-econômica, além da personalidade, que não podem ser ignoradas. O que ele busca não pode entrar em choque com o que ele possui. O aprender deve ser um acréscimo e não uma exclusão de itens.

Muitos estudiosos preocupados com a aprendizagem e o baixo nível  da língua escrita e falada dos alunos, divulgaram suas críticas em documentos que influenciaram as propostas curriculares, dentre alguns destaca-se João Wanderley Geraldi.

A gramática continua nos conteúdos, não na liderança como antes; ela acompanha o ensino da língua para tentar manter uma unidade, mas não ignora a valorização dos gêneros textuais;  convive, agora, com outras modalidades lingüísticas menos privilegiadas socialmente que começam a ser trabalhadas na escola.

Por outro lado, é evidente que o domínio da gramática normativa não garante uma boa produção textual. Tendo em vista tal fato, o novo desafio é capacitar o aluno à práticas de leitura e produções textuais já  que ele está tão defasado em ambos. Formar um leitor não é apenas conseguir a sua apreciação por textos de obras clássicas ou a reescrita delas; é fazer seu conteúdo ser significativo, interativo e formativo.  Depois, consequentemente, vem a  produção de textos. A motivação para  a leitura direciona ao estudo e afins.

Vários textos tentam justificar o porquê da dificuldade e resistência dos alunos em relação à leitura e escrita. Em seus estudos, Rojo(2004) descreve os procedimentos, as estratégias e as práticas de leitura e escrita que contribuem para esse quadro. Um texto não possui um fim em si mesmo, mas é o resultado de um processo longo que começou desde seu nascimento, do contato com o outro, de sua aprendizagem familiar e social, de suas leituras de mundo, de seu amadurecimento como cidadão e por último, das tantas leituras e aquisições advindas de conhecimentos escolares.

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