Em meu baú guardo preciosidades: alguns objetos
que, em algum momento, passaram pela minha vida e possuem um significado
especial, por isso não me desfaço deles. Não pretendo enumerá-los para que não
me comparem com pessoas acumuladoras (cuja prática chega a ser doentia), mas
posso citar algumas coisinhas: possuo a pulseirinha do hospital que colocaram
no bracinho dos meus filhos quando nasceram, tenho o umbigo deles, o modelo do
convite do meu chá de cozinha, todos os cartões que ganhei no casamento ainda
estão lá guardadinhos; além disso, há cartas,
cartões diversos, pastas com textos, roupinhas dos meus graúdos quando eram miúdos e, entre tudo isso, há uma
caixinha exclusiva, na qual guardo com muito carinho e cuidado umas
perolazinhas com formatos e tamanhos
variados que um dia fizeram parte da primeira arcada dentária dos meus
filhos e do neto. Isso mesmo: tornei-me a Fada do Dente: do Danilo, da Patrícia e do Gabriel.
Isso não foi planejado, surgiu, repentinamente,
de uma ideia-clichê de fazer correntes,
pingentes ou brincos utilizando os dentes de leite das crianças. Ou, quem sabe,
foi uma estratégia para não se desfazer de algo tão deles! Não quis repetir cenas
da minha infância que consistiam em jogar o dente no telhado, mencionar algumas
palavras e oferecer a sei lá quem.
(Sempre fiquei cismada com isso, achava estranho )
Os dentinhos de leite quando amolecem para cair
sempre provocam um drama porque a criança fica receosa por perder algo que lhe
pertencia. Não deixa ninguém colocar a
mão e ao mesmo tempo pede ajuda aos pais, avós, tios... enfim, quem estiver por perto.
Assim foi em casa. A cada dente que caía, tanto
do Danilo quanto da Patrícia e, anos depois, do Gabriel, lá se ia o pai/avô, muitas vezes, munido
de um barbante para “laçar” e amarrar na maçaneta
e, no impulso do movimento de abrir e fechar da porta, forçar o dente a sair do “ninho”. A minha
parte era trazer rapidamente água com sal para enxaguar a boca deles, evitando,
assim, um sangramento ou inflamação.
Entre sugestões dos avós e tios que insistiam
que o correto seria jogar os dentes no telhado para que viessem outros mais
fortes, estavam a corujice da mãe, o
apoio do pai e a inevitável ansiedade
das crianças. O resultado não poderia ser outro: os dentes migravam da boca
para a caixinha e estão lá até hoje aguardando o ourives...
Zizi, 12/08/2016
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