Tema: Uma pirraça que marcou
Nome de anjo, cabelos cheios
e levemente loiros, cacheados, bochechas avermelhadas, lábios carnudos, olhos castanho-escuros completam, de forma
harmoniosa, um rosto arredondado, de expressão pura, dócil e gentil com um
sorriso tranquilo e muito sossego no andar e no falar. Embora novo, é alto e
forte, mas não utiliza essas características físicas como estratégia para se
prevalecer sobre os outros. Ao contrário, se precisar ele trata e cuida dos pequenos com muito carinho e cautela,
gosta de ler e de contar histórias para
eles. As crianças o adoram e sempre o rodeiam, onde quer que ele esteja.
Sua beleza interna se mescla à externa. Dividir
o lanche com os coleguinhas não é problema algum, faz isso de coração aberto. É
sensível aos problemas alheios. Ama os bichos, sabe muito sobre eles porque
adora assistir reportagens que abordam o mundo animal. É um defensor intenso da
preservação do meio ambiente. Os fatos históricos, geográficos e mitológicos atraem muito a sua atenção. Gosta
de ler e de desenhar. Sua timidez o torna um observador maior que falador,
principalmente na frente de estranhos.
Essa soma de
características traçam o perfil de
alguém que me faz companhia e me
fortalece de uma forma tão plena que transforma meus momentos difíceis em apenas
fatos a serem superados, pois quando ele
fala na sabedoria de Deus, seus olhos
brilham. Se está próximo, fico mais tranquila, confiante e feliz. Por estas e
outras, acredito que o nome traz uma energia e representa o ser. Pesquisei,
então, o significado de “Gabriel” e me certifiquei de que ele fora mesmo
enviado à minha casa para iluminar cada pessoa que lá habita. Sou muito grata
por essa dádiva.
Entretanto, ao mesmo
tempo em que me deleito com as descrições acerca do meu neto e agradeço todos
os dias sua presença em minha casa, eu recuo algumas páginas da memória para
resgatar episódios hilários e reais que retratam situações bem embaraçosas protagonizadas
pelo mesmo menino e que não combinam “nadica” com as exposições dos primeiros
parágrafos.
Gabriel adorava passear em shopping para se divertir
com os brinquedos e ficava muito bravo quando entrávamos em uma loja para
comprar-lhe roupas ou sapatos. O drama começava quando tinha que experimentar
qualquer roupa. Entrávamos com ele no provador, fechávamos a porta para
vestir-lhe a roupa nova. Porém, ele chorava e gritava de modo escandaloso:
“Socorro!, socorro! Alguém me ajude!! E repetia isso quantas vezes fosse
necessário, até abrirmos a porta e nos depararmos com o olhar fulminante e acusador
de todos que lá estavam. Parecia que as
pessoas acreditavam que estávamos judiando dele. Para evitar maiores conflitos,
ou saíamos sem comprar nada, ou
comprávamos sem experimentar nele. Não adiantava falar com ele. Punir seria
pior, daí sim as pessoas teriam certeza de que o menino fora torturado. (Absurdo!!)
As lojas eram seus locais
preferidos para deixar fora de órbita as três corujonas: mãe, tia e avó. Talvez
porque esse ambiente o privava da apreciada liberdade e da incansável vontade
de brincar. Forçava uma escapadinha, e num piscar de olhos, sumia e se escondia
embaixo das araras nas roupas dos cabides. Lá se iam, novamente, as três
desesperadas descobrir onde ele se escondera dessa vez...
Outra birra marcante
desse meu querido foi com a água. Um autêntico peixinho-bebê. Não podia ver
água em grande quantidade (piscina, rio, mar) que se atirava com roupa e
sapato, sem nossa permissão. Não se contentava em passar a mãozinha ou os pés
na água, ele queria mesmo era mergulhar! Na maioria das situações era
impossível permitir esse acesso por motivos diversos: frio, festa de formatura,
casa dos outros, água suja, etc. Mas ele não compreendia nossos motivos: gritava,
chorava e corria para se molhar de qualquer jeito, mesmo no inverno. Era
um “Deus-nos-acuda”!. A confusão estava armada! A festa perdia a graça...
Eu me arrepiava só em
pensar na possibilidade de o Gabriel ser tão traquina quanto o pai dele: o
Danilo, Nos primeiros anos pareciam repetição
de cenas de um velho filme conhecido (rss).
Um dia estávamos em
outra loja e o Gabriel sentiu vontade de
urinar e não nos avisou. Foi em direção de um bebedouro de água e o fez de
alvo. Tivemos que sair às pressas antes que alguém da loja fizesse a devida
reclamação.
No supermercado, ele
abria os bracinhos e derrubava tudo que podia...
No cinema, fugiu de mim
e da tia durante uns 15 minutos. Foi o pior perrengue da minha vida! Eu fiquei tão mal que levei anos para me
recuperar do susto. Na verdade, até hoje (dez anos depois) eu fico tensa quando saio com ele e o perco de
vista.
Uma noite, depois de
ter assistido a um filme que mostrava como nasciam os patinhos, Gabriel levantou à
noite, foi à cozinha e trouxe vários
ovos e os colocou embaixo de mim . Queria que nascessem pintinhos e para isso
precisava de uma galinha: Euzinha!! (Olha que honra!!)
Traquinagens e/ou
pirraças são definições que os adultos criaram para classificar manifestações pueris
movidas pela curiosidade ou ações de protesto. Na verdade, eles estão apenas crescendo e querem
explorar, empiricamente, esse mar de
possibilidades que o cercam, sem noção
alguma de causa e muito menos de consequência.
Como avó, eu tive mais paciência em lidar com situações
dessa natureza, talvez porque já passei pela experiência de mãe e havia tantas
histórias para contar... Essa afirmação não significa que eu seja permissiva
para prováveis exageros do Gabriel. Afinal ele é um adolescente com 12 anos. De
acordo com a situação, falo sério e uso a punição pertinente. Afinal, quero
deixar um homem de bem, responsável, consciente
dos atos e útil à sociedade. Minha experiência materna por duas vezes
concedeu-me essa graduação que faço valer pela terceira vez, com o mesmo
sucesso, espero...
Zizi 11/06/2016
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