Tecnologia e
aprendizagem: uma possível junção
O objetivo deste texto é apresentar
uma reflexão sobre o uso das TICs no cotidiano escolar, observando, de um lado,
até que ponto a chegada da tecnologia à escola contribuiu com as práticas
pedagógicas que visam à aprendizagem e, de outro, analisar as informações considerando tanto os
resultados de uma pesquisa empírica realizada com um determinado número de
alunos da 8ª série º do Ensino Fundamental, que investiga o contato
deles com as novas tecnologias, quanto os relatos e comentários
ocorridos durante o debate no fórum sobre o mesmo tema.
O próprio termo de origem grega “tekhne” (técnica) vinculado à “logia”
(estudo) já evidencia, desde os tempos remotos até os atuais, a constante busca
do homem pelas tecnologias. Com o mesmo intuito, a música “O Silêncio”, de
Arnaldo Antunes descreve várias tecnologias que surgiram ao longo da historia
da humanidade relacionadas à comunicação
e informação. Em um breve olhar histórico pelo desenvolvimento da linguagem, destacam-se
a origem da escrita e a era digital,
esta última tão divulgada e polemizada nos dias atuais.
Nesse sentido, a chegada e
permanência da tecnologia no contexto escolar implicaram desafios diversos,
tanto nos aspectos positivos quanto negativos. Ao mesmo tempo em que os
apetrechos modernos facilitam a comunicação
e a interação devido a rapidez do acesso a elas
e dessa forma representam um grande aliado à aprendizagem porque cria novas formas de aprender, ele
representa também um campo vasto para que a pessoa se disperse do foco e seja
manipulado por outros interesses (aparentemente) mais tentadores e
(possivelmente) perniciosos.
Acerca desse mesmo tema ocorreu o
debate entre professores de Língua Portuguesa no fórum, cujas discussões foram
bem significativas, pois conseguiram retratar as ações e reações que ocorrem atualmente
no contexto educacional. Os professores não negam nem ignoram o quanto a internet, computador,
televisão, vídeo, retroprojetor,
celular e outros instrumentos tecnológicos são ricos suportes pedagógicos
capazes de contribuir para o
desenvolvimento de habilidades e competências nos alunos.
Entretanto, entre o ideal e o real
há uma distância. As escolas, sobretudo as do ensino público, caminham em ritmo mais lento que o avanço da
ciência; elas estão ainda em fase de adaptação frente a essas tecnologias. Há
problemas diversos como: ausência
de espaço disponível ou adequado, insuficiência
de equipamentos em relação a quantidade
de alunos, manutenção irregular desses aparelhos, faltam cursos de capacitação
para professores, nem sempre há um profissional para orientar e auxiliar nas
dúvidas de manuseio dos aparelhos e outras tantas falhas que dificultam ou impedem
essa “parceria” entre tecnologia e professor.
Este se vê obrigado a criar novas estratégias, reformular metodologias
ou simplesmente recorrer ao “velho e infalível método” do giz e lousa para dar
sequência ao seu trabalho.
Tal realidade confirmada pelas
palavras sábias de Marcuschi:
"Para
ser mais justo, deveria dizer que o que se deu até hoje foi a entrada do
computador na escola (e, na maioria delas, apenas um que vem sendo usado pela
administração), mas não seu uso com objetivos educacionais. Isso até por razões
práticas, pois não são suficientes para servir sequer uma turma. Portanto, o
que entrou na escola foi uma ideologia e não um instrumento. Vale a pena
refletir sobre o instrumento e seu uso porque essa questão está andando mais
depressa do que imaginamos." (MARCUSCHI, 2001, p.81)
É evidente que esses empecilhos
citados no debate atuam de forma contrária na aquisição de novos conhecimentos porque
impedem que os propósitos educacionais vinculados aos avanços modernos sejam
alcançados de forma planejada e assim a educação continua atrasada e dependente
de recursos obsoletos. No entanto, os problemas referentes ao uso da tecnologia
em sala de aula enfrentados pelos professores não se resumem à falta de
organização do espaço, manutenção, escassez de recursos e falta de capacitação.
Há, em particular, uma parte que diz
respeito aos alunos, de como eles se portam diante do atual contexto.
Essa nova geração, de certa forma,
foi privilegiada por terem nascido em plena era digital e por isso não passaram
por dificuldades em lidar com as diversidades tecnológicas. Aliás, percebe-se
até certa relação de “cumplicidade” entre eles, tamanha é a facilidade com que
manuseiam os aparelhos. Em contrapartida, boa parte de seus professores viveram
metade de suas vidas sem essas modernidades e somente depois procuraram se
atualizar para acompanhar a evolução inserindo-a no dia-a-dia como recurso
profissional.
Para os jovens não existem
fronteiras entre eles e a tecnologia, principalmente com o uso da internet, pois
representa uma porta aberta à liberdade de expressão e de interesses pessoais.
A aquisição de aparelhos, principalmente o celular, por ser mais acessível
financeiramente, é algo essencial, como se representasse uma questão de honra
para eles. Munidos de aparelhos celulares, já lhes garantem uma inserção no
mundo tecnológico. O que falta para essas pessoas é saber associar sua
habilidade direcionando-a a sua formação intelectual.
Eles vivem conectados, mas, em
primeiro plano, dão preferência às diversões e/ou entretenimento, interagindo
com amigos ou desconhecidos presentes nas redes sociais (como Orkut, faceBook,
Twiter, MSN, etc) e em função desse contato usam uma linguagem peculiar
denominada “internetês” que muitas vezes sai do espaço virtual e invade a sala
de aula em produções de textos; participam, individualmente ou em grupo, de
jogos virtuais; acessam as ferramentas
de busca para encontrar as músicas, vídeos ou imagens que os interessam; enviam
e recebem SMS constantemente; tiram fotos; filmam cenas (reais ou simuladas)
até dentro da sala de aula e as expõe no Youtube; em última estância pesquisam
temas escolares. Os alunos não se
separam do celular durante as aulas e criam resistência às normas disciplinares
nas escolas quanto à intolerância de quaisquer aparelhos eletrônicos que não
estejam relacionados ao contexto escolar. Esse tipo de situação acontece todos
os dias. Eles procuram disfarçar, escondendo os aparelhos e fios por debaixo
das roupas, capuzes, toucas, dentro das mochilas ou nas bolsas de lápis, etc e,
desse modo, ficam totalmente alheios aos objetivos da aula com essas atitudes
rebeldes e perdem, portanto, aquisição de conhecimento.
Situações similares foram
relatadas por vários professores durante
o debate no fórum, porém houve também aqueles que apresentaram outros
depoimentos com base em experiências positivas em sala de aula que conseguiram
com os recursos tecnológicos disponíveis em cada escola. As trocas foram
significativas e acrescentaram mais ideias e otimismo aos integrantes para a
continuação do duro desafio que é ensinar nos dias de hoje.
Além das informações oriundas do
debate sobre o tema, outra fonte trouxe-me mais dados que confirmaram minhas
expectativas quanto o acesso e os respectivos objetivos dos alunos ao mundo
digital: uma pesquisa realizada com alunos de uma 8ª série (em uma escola pública
onde trabalho) mostrou que a maioria tem acesso à internet através do celular
ou computador. Dos 27 que responderam ao questionário, 25 têm celulares e 24
possuem computador em casa com acesso à internet, além daqueles que frequentam lan houses ou centros públicos com acesso gratuito à internet. Quanto à
finalidade de uso, não difere do perfil aqui
já apresentado. O que mais os motiva e os mantém conectados são as interações
com outras pessoas através das redes sociais e as demais formas de
entretenimento possíveis. Eles não encaram o celular ou computador como uma
ferramenta educacional, apesar de utilizá-los em pesquisas, quando solicitadas.
Apenas proibi-los ou criticá-los
pelo uso indevido de celulares e computadores não resolve o problema. Devem-se
propiciar situações em sala de aula que incluam o uso desses aparelhos,
explorando os recursos que eles possuem como: pesquisas direcionadas,
apresentações de trabalhos em vídeos ou telões com efeitos de palavras, sons e
imagens, etc. Em atividades para casa, há mais alternativas: o contato entre
professor e aluno pode também ser por e-mail; ou então algo mais interessante
como a criação de um blog pelo professor no qual contenha: informações de
conteúdo, imagens diversas, atividades variadas, vídeos relacionados aos temas
trabalhados em sala, dicas de leitura, sugestões, curiosidades, exposições de
trabalhos dos alunos no blog, etc. E
mais: ao invés da tradicional “lição de casa” copiada na lousa, o professor
passa o endereço do blog aos alunos e anota a atividade sugerida para que eles
a encontrem no espaço virtual e a desenvolva (Plano parcialmente em ação desde
julho/2011: www.portaldazizi.blogspot.com).
Logo, uma intervenção do professor
que implique mudança de atitude tanto dele quanto dos alunos torna-se
necessária e urgente para alterar essa realidade. Em primeiro lugar usufruir sim, mas de forma
consciente, dessa tecnologia no processo ensino-aprendizagem, não utilizando
apenas por modismos ou recurso alternativo e sim desenvolver seu uso crítico e
reflexivo, visando à ampliação do saber por meio dos diferentes recursos
tecnológicos que potencializem a aprendizagem. Só assim todos ganham e a
vitória é coletiva.
Referências Bibliográficas:
PEREIRA,
V.A.. Multiletramentos, linguagens e
mídias. Tema 01/Tópico 2: Das paredes das cavernas ao monitor. Campinas, SP:
UNICAMP/REDFOR, 2012. Material digital para AVA do curso de Especialização em
Língua Portuguesa REDEFOR/UNICAMP.
Acesso em 03/05/2012
Tecnologia na escola. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/2sf.pdf
Acesso: 04/05/2012
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