Interatividade
Atualmente mencionar: “Interatividade” implica garantia de crédito e aprovação por parte das
pessoas que se consideram modernas e buscam se atualizar em relação às
novidades oriundas da tecnologia. O termo está na moda e por isso é usado nas
mais diversas situações do dia-a-dia que
envolvem desde a simples aquisição de brinquedos ou jogos, manuseio de
aparelhos eletrônicos ou digitais; cursos de educação à distância ou virtual; à quaisquer
atividades que utilizem as novas mídias de comunicação. Logo, é uma palavra que
veio ao encontro das aspirações contemporâneas, cujo sentido se amplia e ganha
novas conotações de acordo com o contexto inserido.
Segundo
André Lemos, “o que compreendemos hoje por interatividade, nada mais é que uma
nova forma de interação técnica, de cunho “eletrônico -digital”, diferente da
interação “analógica” que caracterizou os media tradicionais.” “Nós experimentamos,
todos os dias, formas de interação ao mesmo tempo técnica e social. Nossa
relação com o mundo é uma relação interativa onde, as ações variadas
correspondem retroações às mais diversas. Essa interação funda toda vida em
sociedade.”
Considerando que nossas ações estão voltadas às pessoas
ou às máquinas, pode-se afirmar que vivemos em constante interatividade social
e/ou técnica, pois embora sejam distintas, ambas são inseparáveis e (quase) subordinadas no que diz respeito ao
processo comunicativo estabelecido,
principalmente no trabalho, na vida familiar e amorosa. O desenvolvimento
tecnológico e digital passou de sonho a fato e está presente em todos os
lugares (casas, empresas, escolas, locais públicos e privados,
meios de transporte, comércio, etc.)
Em cada fase da vida convivemos com um tipo de evolução
tecnológica que exigiu um período de adaptação para ser conhecido, aceito e
inserido nas práticas diárias. É normal, no início, uma possível resistência às
novidades por parte de algumas pessoas presas ao tradicional, sobretudo se
estão acostumadas e condicionadas ao desenvolvimento a passos lentos
proporcionados pelo seu ambiente de trabalho.
Um dos exemplos mais típicos de situações análogas é o
ambiente escolar que representa o local de formação do futuro profissional. No
entanto, tecnologia e escola caminham em
descompasso, embora ambos compartilhem o mesmo usuário e este se encontra diante de um conflito: de um lado, seduzido pelas velozes invenções eletrônicas
e digitais associadas à internet; de outro, na sala de aula, convivendo ainda com
metodologias tradicionais ou mesmo enfrentando
problemas de escassez e manutenção de
equipamentos que contribuem para sua insatisfação e desmotivação.
Vale recordar que há alguns anos, a lousa, o giz, os livros e o mimeógrafo
eram os únicos recursos
tecnológicos à disposição dos
professores para as aulas; em seguida o avanço da ciência trouxe, gradualmente,
o retroprojetor, o vídeo, máquina de xérox, o computador, a lousa digital,
alterando toda a estrutura metodológica escolar. Os aparelhos obsoletos foram “aposentados”,
embora se reconheça que eles cumpriram seu “papel pedagógico” durante o tempo
em que foram úteis e contribuíram para a aprendizagem dos alunos, pois é mais
significativo o uso que se faz de cada recurso disponível, seja ele moderno ou
não, do que ter acesso às novas
tecnologias sem que ela represente um avanço nas práticas escolares.
Num primoroso texto avançado em seu tempo, Anísio
Teixeira deixa claro que o professor deveria
lançar mão dos
“novos
recursos tecnológicos e dos meios audiovisuais” não para transmitir conteúdos,
ao contrário, buscaria neles rompimento com a pedagogia da transmissão (TEIXEIRA,
1003-On-line)
Paulo Freire também questionou o mau uso da prática pedagógica afirmando
que
“ensinar não é a simples transmissão do
conhecimento em torno do objeto ou do conteúdo. Transmissão que se faz muito
mais através da pura descrição do conceito do objeto a ser mecanicamente
memorizado pelos alunos”.(FREIRE, 1992, p. 81).
Os diferentes meios tecnológicos de expressão e
comunicação, se explorados na escola com objetivos voltados à aprendizagem
fornecem muitas possibilidades de interatividade e desenvolve a autonomia na
construção do próprio conhecimento do aluno. Não faz sentido utilizar os
recursos modernos e manter práticas tradicionais. O professor não representa
mais o único canal que o aluno acessa para saber mais, ao mesmo tempo ele não é
indispensável, pois deve estar sempre por perto orientando, direcionando,
mediando, sugerindo. Sendo criativo, o
professor poderá utilizar as TICs para criar atividades interativas em
diferentes espaços virtuais como: sites, blogs, emails, chats, redes sociais,
etc, propondo encontros síncronos ou assíncronos.
Obviamente tais atividades requerem muito planejamento e
organização, caso contrário perde-se o controle da situação e a suposta
atividade passa a ser um momento de constrangimento, pois os alunos não perdoam
um mau preparo do professor quando este se arrisca em algo novo que não
consegue coordenar com eficácia.
Embora a palavra-chave seja “criatividade” para o uso em
qualquer recurso tecnológico, seja ele antigo ou moderno, há determinadas limitações
para o professor. Por exemplo, é difícil
criar para os alunos um espaço de aprendizagem igual àqueles dos cursos
à distância, visto que, neste caso, há vários profissionais envolvidos e cada
um deles atua de forma diferente formando um conjunto que possibilita o acesso
às informações, o contato com os tutores e coordenadores, o retorno das
atividades, a navegação pelas fontes bibliográficas sugeridas, etc.
Convém, portanto, trabalhar com o que se possui: elaborar
aulas utilizando ,quando possível, os computadores das escolas, aproveitar os
vídeos e o retroprojetor para passar filmes relacionados ao tema da aula ou
para reproduzir os trabalhos dos alunos, os inúmeros celulares que não saem das
mãos dos alunos também devem ser aproveitados em benefício pedagógico como o
acesso à internet para pesquisas, reprodução de imagens e de sons, etc. Essa é
a realidade que cerca o profissional da educação; os desafios não param, ou
melhor, se renovam à medida que
amadurecemos.
Referências
bibliográficas
SILVA, M. Indicadores
de interatividade para o professor
presencial e on-line.
Revista Diálogo Educacional,
v. 4, n. 12, p. 93-109. Curitiba: Ed. Champagnat, 2004.
Disponível em:
http://www.redalyc.org/redalyc/pdf/1891/189117821008.pdf, Acesso em
20/05/2012.
LEMOS, A.
L. M. Anjos interativos
e retribalização do
mundo. Sobre interatividade e
interfaces digitais. 1997.
Disponível em:
http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/lemos/interativo.pdf, Acesso em
20/05/2012.
Multiletramentos,
Linguagens e Mídias
- Tópico
2 – Interatividade, hipertextualidade e multimodalidade, do TEMA 2 – A
linguagem nos/dos novos meios - Campinas, SP: UNICAMP/REDEFOR, 2012. P. 01/08. Material digital para
AVA do Curso de Especialização em Língua Portuguesa REDEFOR/UNICAMP. acesso em
20/05/12.
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