Cultura:
traços da identidade
Um traço que caracteriza a
juventude é a sua infatigável busca pela
identidade, e desse modo, os jovens
tornam-se condutores de expressões verbais e não verbais. Onde quer que
estejam, fazem questão de expor à sociedade suas ideias, críticas e valores
que, geralmente, contrastam com a realidade em que vivem. A meta que alimenta essa
incessante atuação é a da transformação, pois acreditam que o momento ideal
para alterar o contexto social e cultural é o agora, já que não se consideram
mais crianças e precisam tomar atitudes que provem isso, definindo-se, assim, como
a nova geração.
Com atitudes nem sempre aceitas ou
compreendidas pelo olhar adulto, os jovens vão construindo sua história no
presente, evitando, sobretudo, repetir um passado do qual eles não compartilharam.
Mesmo assim, o futuro ainda parece distante para esses impacientes
“construtores do amanhã”. Suas escolhas
ideológicas e produções culturais (muitas vezes com influência da mídia e do
consumismo) estabelecem a divisão entre o antigo e o novo na música, cinema,
teatro e nas diferentes manifestações das artes visuais.
Para isso, eles recorrem,
inclusive, aos recursos tecnológicos, pois aí estão as ferramentas poderosas
que facilitam a transmissão e divulgação da cultura juvenil. Segundo o
historiador Eleilson Leite (2008):
“O que está em jogo hoje na cultura
produzida pelos jovens é a emergência da criação. E o acesso às novas mídias
tem reforçado essa questão. Sob a bandeira da inclusão digital e democratização
do acesso aos meios de comunicação, está a ideia de que é possível fazer,
escrever, compor, interferir, difundir. Daí a pertinência do debate sobre
propriedade intelectual e livre circulação do conhecimento e da cultura”.
Entretanto, sabemos que a maior parte da produção cultural dos jovens é
marginalizada pela sociedade e, como resposta a essa intolerância, principalmente
nas áreas urbanas, surgem grupos autônomos compostos por adolescentes e/ou jovens com diferentes atuações culturais, como: Rap,
Hip Hop, dança de rua, Reverse Graffiti, grafites , Sticker art,
pichações, prática de novos esportes
como o parkour , além da
caracterização típica na linguagem
e moda em roupas, calçados,
acessórios, etc.
Essas pessoas lutam,
a seu modo, pelos valores que defendem e dão sequência a uma “infinita
saga do conflito entre o tradicional e o moderno”; tão bem descrita e definida pela professora e
Dra. Rita de Cássia Alves Oliveira:
Os jovens
da virada do
milênio são o
espelho da vida
metropolitana: experimentam a
cidade como homens da multidão;
convivem com as
aglomerações
cotidianamente;
resistem, como podem,
à homogeneização e ao anonimato das grandes cidades; inserem-se no fluxo
constante de pessoas, veículos, informações, imagens.
Embora as ruas sejam locais abertos e livres para a “articulação das relações sociais” e “espaços de interação imediata”, como
afirmou a professora e Dra. Rita de Cássia Alves Oliveira, a escola também tornou-se um ponto de encontro
dos jovens, pois além de representar, em parte, a sua formação escolar, é um
ambiente legalizado onde eles podem se agrupar e se comunicar de forma mais
tranquila, sem os olhares reprovadores das autoridades.
A educação precisou se adaptar a essa realidade, visto que são eles que
formam a demanda escolar. Os conteúdos e
as metodologias tradicionais perderam sua força a partir dos anos setenta
quando a escola deixou de ser seletiva e abriu as portas para todos,
popularizando, assim, o ensino básico. Muitas mudanças e adaptações no
currículo escolar foram necessárias para que o ensino mantivesse o seu grau de
importância na formação do indivíduo. O reconhecimento e valorização do
histórico cultural trazido pelo aluno estão entre as prioridades que a escola
adotou.
Não se trata da substituição dos conteúdos clássicos e normativos os
quais somente a escola é a responsável pela divulgação, mas de abrir espaço
para outros conhecimentos oriundos das camadas menos privilegiadas da
sociedade, como por exemplo, a variação linguística e as manifestações
culturais na arte, música, dentre outros.
O universo escolar convive no
dia-a-dia, portanto, com duas
realidades antagônicas: a popular, representada pelo aluno e a patrimonial que
engloba os saberes sistematizados. Não é tão simples conciliá-los já que
possuem pontos distintos, todavia não é impossível.
No ambiente escolar onde eles permanecem cerca de cinco horas por dia, há
tempo e espaço suficientes para a divulgação de ambas as culturas. Nas aulas de
Língua Portuguesa que somam um total de cinco ou seis aulas semanais, o
professor pode desenvolver um projeto cultural unindo o conhecimento erudito ao
popular (ou vice-versa), em um trabalho que possibilite aos alunos uma autonomia e interação
maior com a escola.
Para ilustrar uma possível união entre os dois mundos distintos, um vídeo
seria a peça-chave : uma magistral performance em Hip Hop de um clássico do
balé: A Morte do Cisne, feita por um jovem de periferia cujo nome é John Lennon
da Silva (A simplicidade e humildade do
rapaz somada à perfeição nos movimentos enquanto dança é, no mínimo,
espetacular e emocionante: http://www.youtube.com/watch?v=KGN6oQmhKck ).
No que diz respeito à organização e participação dos grupos de alunos, os
representantes do Hip Hop, se preparariam para decorar os muros e painéis da
escola com grafites, tornando-a mais alegre e atrativa; outros apresentariam
danças de rua em um dia determinado por eles;
os compositores e cantores de Rap também participariam com suas criações,
etc. Mais sugestões seriam aceitas desde
que atendesse ao objetivo maior: a divulgação e valorização das culturas
juvenis.
Depois dessa abertura, o jovem, provavelmente, se sentirá mais acolhido e
incluso nesse universo de aprendizagem interativa onde prevalece a soma e a
multiplicação do conhecimento, sem questionamento geográfico ou social. Um
trabalho bem articulado que forneça ao aluno a oportunidade de expor seus
conhecimentos culturais de música, dança e arte fará dele um protagonista e sujeito da própria história e não um objeto ; e é nesse momento que os papéis se invertem:
o professor passa a espectador e o aluno assume a liderança.
Referências bibliográficas
OLIVEIRA, R. C. A. Lendo a metrópole comunicacional: Culturas
Juvenis, Estéticas e Práticas Políticas. REVISTA ACADÉMICA DE LA
FEDERACIÓN LATINOAMERICANA DE FACULTADES DE COMUNICACIÓN SOCIAL. Disponível em:
http://ggte.unicamp.br/redefor3/cursos/diretorio/apoio_565_45//Oliveira_2006.pdf?1340827640
Acesso em 26/06/2012
BAGNO, M. A língua
de Eulália: Uma novela sociolinguística. São Paulo: Contexto,
1997.
Disponível em: http://ggte.unicamp.br/redefor3/cursos/diretorio/leituras_627_45//Marcos%20Bagno.pdf?1340829247
Acesso em: 27/06/2012
Cultura Juvenil: faça você
mesmo!
Acesso em
27/06/2012
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