sábado, 8 de junho de 2013

Cultura: traços da identidade

Um traço que caracteriza a juventude  é a sua infatigável busca pela identidade,  e desse modo, os jovens tornam-se condutores de expressões verbais e não verbais. Onde quer que estejam, fazem questão de expor à sociedade suas ideias, críticas e valores que, geralmente, contrastam com a realidade em que vivem. A meta que alimenta essa incessante atuação é a da transformação, pois acreditam que o momento ideal para alterar o contexto social e cultural é o agora, já que não se consideram mais crianças e precisam tomar atitudes que provem isso, definindo-se, assim, como a nova geração.
Com atitudes nem sempre aceitas ou compreendidas pelo olhar adulto, os jovens vão construindo sua história no presente, evitando, sobretudo, repetir um passado do qual eles não compartilharam. Mesmo assim, o futuro ainda parece distante para esses impacientes “construtores do amanhã”.  Suas escolhas ideológicas e produções culturais (muitas vezes com influência da mídia e do consumismo) estabelecem a divisão entre o antigo e o novo na música, cinema, teatro e nas diferentes manifestações das artes visuais.
Para isso, eles recorrem, inclusive, aos recursos tecnológicos, pois aí estão as ferramentas poderosas que facilitam a transmissão e divulgação da cultura juvenil. Segundo o historiador Eleilson Leite (2008):
“O que está em jogo hoje na cultura produzida pelos jovens é a emergência da criação. E o acesso às novas mídias tem reforçado essa questão. Sob a bandeira da inclusão digital e democratização do acesso aos meios de comunicação, está a ideia de que é possível fazer, escrever, compor, interferir, difundir. Daí a pertinência do debate sobre propriedade intelectual e livre circulação do conhecimento e da cultura”.

Entretanto, sabemos que a maior parte da produção cultural dos jovens é marginalizada pela sociedade e, como resposta a essa intolerância, principalmente nas áreas urbanas, surgem grupos autônomos compostos por adolescentes e/ou  jovens  com diferentes atuações culturais, como: Rap, Hip Hop, dança de rua,  Reverse Graffiti,  grafites , Sticker art, pichações, prática de novos esportes  como o parkour , além da caracterização típica na linguagem  e  moda em roupas, calçados, acessórios, etc. 

Essas pessoas  lutam,  a seu modo, pelos valores que defendem e dão sequência a uma “infinita saga do conflito entre o tradicional e o moderno”;  tão bem descrita e definida pela professora e Dra. Rita de Cássia Alves Oliveira:

 Os   jovens   da   virada   do   milênio   são   o   espelho   da   vida   metropolitana:   experimentam   a   cidade   como homens da   multidão;    convivem     com    as   aglomerações       cotidianamente;      resistem,    como     podem,     à homogeneização e ao anonimato das grandes cidades; inserem-se no fluxo constante de pessoas, veículos, informações, imagens.  

 

Embora  as ruas sejam locais abertos e livres para a “articulação das relações sociais” e “espaços de interação imediata”, como afirmou a professora e Dra. Rita de Cássia Alves Oliveira,  a escola também tornou-se um ponto de encontro dos jovens, pois além de representar, em parte, a sua formação escolar, é um ambiente legalizado onde eles podem se agrupar e se comunicar de forma mais tranquila, sem os olhares reprovadores das autoridades.  

A educação precisou se adaptar a essa realidade, visto que são eles que formam a demanda escolar.  Os conteúdos e as metodologias tradicionais perderam sua força a partir dos anos setenta quando a escola deixou de ser seletiva e abriu as portas para todos, popularizando, assim, o ensino básico. Muitas mudanças e adaptações no currículo escolar foram necessárias para que o ensino mantivesse o seu grau de importância na formação do indivíduo. O reconhecimento e valorização do histórico cultural trazido pelo aluno estão entre as prioridades que a escola adotou.

Não se trata da substituição dos conteúdos clássicos e normativos os quais somente a escola é a responsável pela divulgação, mas de abrir espaço para outros conhecimentos oriundos das camadas menos privilegiadas da sociedade, como por exemplo, a variação linguística e as manifestações culturais na arte, música, dentre outros.

O universo escolar  convive no dia-a-dia, portanto,   com duas realidades antagônicas: a popular, representada pelo aluno e a patrimonial que engloba os saberes sistematizados. Não é tão simples conciliá-los já que possuem pontos distintos, todavia não é impossível.

No ambiente escolar onde eles permanecem cerca de cinco horas por dia, há tempo e espaço suficientes para a divulgação de ambas as culturas. Nas aulas de Língua Portuguesa que somam um total de cinco ou seis aulas semanais, o professor pode desenvolver um projeto cultural unindo o conhecimento erudito ao popular (ou vice-versa), em um trabalho que  possibilite aos alunos uma autonomia e interação maior com a escola.

Para ilustrar uma possível união entre os dois mundos distintos, um vídeo seria a peça-chave : uma magistral performance em Hip Hop de um clássico do balé: A Morte do Cisne, feita por um jovem de periferia cujo nome é John Lennon da Silva (A simplicidade e humildade  do rapaz somada à perfeição nos movimentos enquanto dança é, no mínimo, espetacular e emocionante:    http://www.youtube.com/watch?v=KGN6oQmhKck   ).

No que diz respeito à organização e participação dos grupos de alunos, os representantes do Hip Hop, se preparariam para decorar os muros e painéis da escola com grafites, tornando-a mais alegre e atrativa; outros apresentariam danças de rua em um dia determinado por eles;  os compositores e cantores de Rap também participariam com suas criações, etc.  Mais sugestões seriam aceitas desde que atendesse ao objetivo maior: a divulgação e valorização das culturas juvenis.  

Depois dessa abertura, o jovem, provavelmente, se sentirá mais acolhido e incluso nesse universo de aprendizagem interativa onde prevalece a soma e a multiplicação do conhecimento, sem questionamento geográfico ou social. Um trabalho bem articulado que forneça ao aluno a oportunidade de expor seus conhecimentos culturais de música, dança e arte fará dele um protagonista  e sujeito da própria  história e não um objeto ;  e é nesse momento que os papéis se invertem: o professor passa a espectador e o aluno assume a liderança. 

 

Referências bibliográficas

OLIVEIRA, R.  C. A. Lendo a metrópole comunicacional: Culturas Juvenis, Estéticas e Práticas Políticas. REVISTA ACADÉMICA DE LA FEDERACIÓN LATINOAMERICANA DE FACULTADES DE COMUNICACIÓN SOCIAL.           Disponível em:                                                                                                                                              http://ggte.unicamp.br/redefor3/cursos/diretorio/apoio_565_45//Oliveira_2006.pdf?1340827640

 Acesso em  26/06/2012

 

 

BAGNO, M. A língua de Eulália: Uma novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 1997.

Disponível em: http://ggte.unicamp.br/redefor3/cursos/diretorio/leituras_627_45//Marcos%20Bagno.pdf?1340829247

Acesso em: 27/06/2012

 

Cultura Juvenil: faça você mesmo!

Acesso em 27/06/2012

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