“Ensino de Português:
origens das práticas e necessidades dos alunos hoje”
A Língua Portuguesa já foi, tantas vezes, tema inspirador em diversas
produções de poetas e de escritores.
Geralmente esses textos costumam ressaltar a sua importância e valorizar o seu
uso através de metáforas e personificações variadas, traçando um perfil
subjetivo que refletem nela um caráter humano. Uma provável tentativa de provocar,
no leitor, sua sensibilidade e despertar um maior interesse pelo seu código de
comunicação. Mas, e o aprender desse idioma?
O ensino da língua, nos
dias atuais, é um dos maiores desafios que o professor enfrenta. Vários são os
motivos que dificultam o trabalho em sala de aula, destacando-se: a inadequação
de uma clientela do século XXI com a estrutura educacional alicerçada em
modelos arcaicos.
Embora tenham ocorrido
consideráveis mudanças na organização e na estrutura educacional, não foi
possível desenvolver e implantar, ainda, uma política educacional de qualidade
que contemplasse, plenamente, as necessidades e os objetivos, tanto do público
alvo (alunos), quanto dos profissionais que atuam na área da educação. Todas as
revoluções educacionais nasceram da insatisfação pelo sistema que predominava
naquele momento.
Muitos professores terminaram
o Ensino Médio nos anos oitenta. Tiveram, portanto, uma formação escolar
baseada nos critérios educacionais daquela época, os quais o professor era a
figura central e representante do saber, que deveria passar seus conhecimentos
a um número limitado de alunos. Em
contrapartida, hoje, esses profissionais lidam com disparidades. A começar pela
excessiva quantidade de estudantes em cada sala de aula; a “desarmonia”, entre
os direitos e os deveres dos mesmos e a estrutura educacional em crise,
resultantes de uma má administração. Entretanto, por trás disso tudo, há um
histórico a ser considerado:
O ensino da Língua
Portuguesa, no início do século XX, era
focado na gramática normativa e na ortografia, desconsiderando, assim, pontos
relevantes como o contexto sócio-histórico e cultural do aluno. Depois disso, houve algumas alterações
referentes à escrita e a produção textual.
Nos anos cinquenta,
ainda se baseavam em um modelo arcaico adotado pelo colégio D. Pedro II, cujo
foco resumia-se em: rigor gramatical, leitura e “quase” reescritas de obras ou
trechos clássicos, seguidos (nas séries posteriores) de criações de narrativas,
cartas, descrições e dissertações. Exigia-se do aluno a criatividade, mas, priorizando
sempre a norma culta. Não havia uma
preocupação com o objetivo do texto, seu interlocutor e nem o ambiente onde iria
circular. Desconsideravam, pois o processo significativo que daria sentido
àquela construção.
As duas décadas seguintes (anos sessenta e
setenta) foram marcadas, principalmente, pelo grande acesso de alunos oriundos
de classes sociais menos favorecidas, causando assim, uma mudança no perfil do
alunado. Esse detalhe contribuiu para uma alteração no que diz respeito à parte
didática-pedagógica. A Lei 5692 de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1971 estabeleceu para o ensino da
língua materna, a disciplina “Comunicação e Expressão”. A ideia foi absorvida também por editoras responsáveis
pelo material didático, que enfatizaram o processo comunicativo nas atividades
sugeridas. Mesmo assim, a denominação dos textos quanto ao gênero continuavam:
narração, descrição e dissertação.
A partir dos anos
oitenta, surgiram estudos mais aprofundados com relação aos gêneros textuais
desenvolvidos nas escolas. Os autores destas obras os consideravam
descontextualizados e por isso sugeriram que produzissem textos ao invés de
escrever redações. As pesquisas linguísticas também enfatizaram a
organização, articulação e o bom desenvolvimento do texto. Todavia, os
aspectos formais estavam à frente de qualquer outra exigência.
Poucas, porém
significativas, foram essas mudanças porque serviram como base e contribuíram, nos
anos seguintes até os dias atuais, para um “amadurecimento” do ensino da
língua. Da década de noventa em diante, autores como Bakhtin (1992),
Schneuwly & Dolz
(2004), Marcuschi (2008), Miller (2009), Rojo (2008), Bazerman
(2006), dentre outros, destacaram a importância
de se compreender os gêneros
textuais e sua pertinente utilização nas práticas
sociais.
Hoje, o papel da escola vai
além de alfabetizar e ensinar a estrutura da língua materna; ela deve preparar
melhor o aluno, apresentando, entre outros conteúdos necessários à aprendizagem
escolar, a diversidade e a prática dos gêneros textuais que circulam dentro e
fora do ambiente escolar e fazem parte da sua realidade. Não se trata de
desvalorizar o estudo da língua em sua estrutura, leitura ou produção de
textos, mas sim de torná-lo mais atraente, prático e significativo,
independente da série ou idade.
Referências Bibliográficas:
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