A Linguagem da arte popular e da erudita
Conceituar a Arte não é
tarefa fácil porque depende do ângulo em que se observa. De maneira geral as
definições podem ser objetivas ou subjetivas;
saber qual delas requer mais credibilidade é muito relativo e pouco importante. O fundamental é reconhecer na arte sua participação efetiva na vida do ser
humano desde os tempos mais remotos, sua trajetória no atravessar dos séculos e
as implicações atuais, portanto a arte é o instrumento pelo qual o ser humano
manifesta suas diversas expressões, tais como: visuais (pintura, escultura, desenho, artesanato,fotografia);
movimento (dança); som (música, ritmos); cênicas (expressões faciais e gestos); literária (poesia ou prosa).
Há, inclusive, outra
classificação que divide a arte em dois níveis: popular e erudito. O primeiro
representa a cultura do povo que abrange a maioria da população e de fácil
acesso, pois não necessita de um espaço determinado para acontecer, sua
criação está relacionada com a simplicidade e espontaneidade das pessoas
dotadas de uma determinada sensibilidade artística; a outra pertence a uma minoria da população e é, por isso mais seletiva e exigente, está
mais presente nas entidades escolares, sobretudo, nos meios acadêmicos. O
acesso a ela é restrito, goza de mais
respeito perante os intelectuais e está presente nas classes sociais mais
privilegiadas, logo, dominadoras.
São como irmãs criadas
em lares diferentes: não frequentam os mesmos ambientes, tem pouco contato uma
com a outra, são estranhas, adversas, embora ligadas por um objetivo em comum: ambas representam,a seu modo, o patrimônio
cultural de uma população.
Para alguns, essa
divisão social não incomoda porque traz, de certa forma, uma confortável estaticidade social: de um lado os selecionados; do outro, o restante. Mas isso não é regra geral para
os integrantes do primeiro grupo. Do meio deles surge alguém com outros planos
visando uma “quebra” da ordem dos fatos e coloca em ação seus ideais de
transformação de uma parcela da sociedade, até então, discriminada. Seu nome:
Ivaldo Bertazzo, um coreógrafo e dançarino paulista que tem feito a diferença
na vida de muitos jovens da periferia de São Paulo.
Ivaldo Bertozzo , um profissional de reconhecimento nacional
e internacional, com muita experiência em dança e coreografia, viajou muito pelo mundo exibindo seu trabalho
e talento, conheceu a cultura de vários países e, com toda essa
bagagem de conhecimento, decidiu elaborar
um projeto diferenciado trazendo à
população mais carente um complemento à sua formação intelectual. Através de
uma seleção de jovens inscritos gratuitamente, ele empenhou-se em resgatar-lhes
a identidade, o protagonismo e a
cidadania dos jovens, além de despertar a sensibilidade artística deles e facilitar-lhes o acesso aos bens culturais
mais valorizados pela sociedade.
Para isso foi preciso
desenvolver um trabalho interdisciplinar incluindo as disciplinas
escolares: Educação Física, Arte e
Línguas. Ele lidera esse trabalho grandioso, mas não está sozinho nisso, há
vários profissionais que o apoiam e atuam junto no desenvolver do projeto que requer tempo, determinação, e também
investimento financeiro. Além das aulas de dança, os alunos aprendem mais sobre
o seu corpo e sua língua com especialistas de cada conteúdo e também viajam
para as apresentações de palco dentro e fora do Brasil.
Uma pequena amostra
desse nobre trabalho encontra-se em alguns vídeos no site do Youtube:
entre eles, uma reportagem que foi exibida em um programa da Rede
Globo, no qual é abordado a importância
desse projeto, como surgiu e se desenvolveu entre o coreógrafo e o grupo de
jovens da periferia de São Paulo. Outros
vídeos trazem trechos de algumas
apresentações das danças que eles participam.
É interessante observar a
mistura de culturas dos países nessas apresentações, tanto nas
coreografias, nas vestimentas dos
dançarinos e nos instrumentos que acompanham os ritmos. Algumas coreografias não são totalmente criadas por Ivaldo, ele, muitas
vezes contribui com a parte sonora e com
o conjunto de dançarinos. Suas parcerias
provêm de outros países também e sendo assim há uma prioridade cultural que
predomina no decorrer do espetáculo, ou seja, há um suposto sincronismo
cultural altamente perceptível nas roupas dos dançarinos, nos ritmos emitidos
pelos instrumentos, nos passos.
Entretanto uma “voz”
silenciosa, mas firme nos gestos
mantém o controle e lidera a coreografia, não se “rendendo” às
insistências adversárias que carregam características típicas de outros espaços
culturais. A cultura priorizada que se reafirma, portanto é a erudita
protagonizada pela dançarina hindu
Sawani Mudgal. Em uma das cenas expostas, ela, junto a um dançarino brasileiro,
simulam uma dupla de porta-bandeira que bailam
ao som de uma moderada batucada.
Se o objetivo fosse mostrar um comportamento tipicamente brasileiro
ela sambaria ao ritmo, mas não, ela
acompanha o ritmo com movimentos típicos das danças indianas. Outras performances são mostradas, mas fica
evidente em todas elas o predomínio da cultura estrangeira sobre a brasileira e
suas origens (indígena e africana), pois até mesmo os bailarinos brasileiros aderem aos passos hindus em
alguns momentos.
Nesse sentido fica
evidente o papel do autor e sua função
discursiva (embora silenciosa) na elaboração da referida coreografia. A
intenção inicial de Ivaldo Bertozzo pode (até) ser diminuir a distância entre a
cultura popular dos jovens da periferia e a erudita dos grandes centros
urbanos, mas percebe-se que nos meios de
sua produção outros valores entram em cena e assumem um papel principal, restando
ao leitor somente uma opção: a apreciação do resultado final de um trabalho coletivo e
integrado a culturas múltiplas.
Referências bibliográficas
ZOPPI-FONTANA,
M. Autoria, efeito-leitor e gêneros de
discurso. Tema 02/Tópico 2:
Práticas de leitura e efeito-leitor. Campinas, SP: UNICAMP/REDEFOR,
2012. Material digital para AVA do Curso de Especialização em Língua Portuguesa
REDEFOR/UNICAMP. acesso em 08/04/2012.
DOS SANTOS, Bianca Caroline - Arte como processo cultural: por uma ampliação do humano . Disponível
em: http://www.compoliticas.org/redes/pdf/redes5/24.pdf
Acesso em 08/04/2012
BERTAZZO, Ivaldo - A aventura do
homem em busca do movimento
Disponível em: http://ivaldobertazzo.com/sobre/ Acesso em 08/04/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário