sábado, 10 de dezembro de 2016

Travessuras atemporais

Importadas da infância para o mundo adulto, as maluquices e/ou travessuras têm comigo uma intrínseca relação de cumplicidade e companheirismo,  comprovados em situações variadas que marcam a esticada linha do tempo,  fracionadas em: infância, adolescência e adulta.

Em uma das extremidades, uma menina vestida como palhaça, improvisa uma encenação e atrai curiosos que se aglomeram na janela e, às gargalhadas, se divertem ao assistir àquela caracterização hilária de imitações, contações de histórias, e outras birutices.  De certa forma, era um tipo de diversão que  dissolvia, por alguns minutos,  o tédio morno  do anoitecer  da pequena e singela vila,  localizada em um ponto quase esquecido de uma certa região bem calorosa...                                                     
Como adolescente, não perdeu o bom humor e o gostar de fazer graça para provocar risos, principalmente nos familiares e amigos. Aquela tímida garota descobrira  um jeito mais leve de lidar com as complicações que surgiam a cada dia,  sem  esvaziar o pote da  insanidade (Em outras palavras,   sou uma louca de bom juízo).

O mundo adulto trouxe-me a maior das missões: a maternidade,  representada por duas figurinhas encantadoras (Danilo e Patrícia) que se tornaram meus brinquedos favoritos.  Lembro-me que, quando criança, um dos meus maiores  sonhos no Natal era ganhar uma boneca que falava e andava, porém naquela época,  as nossas condições financeiras não permitiam tal aquisição. Entretanto, Deus, na sua vasta sabedoria,  atendeu-me anos depois com duas maravilhosas bênçãos que,  além de falar e andar, permitiram-me vivenciar as mais aprazíveis aventuras maternas.

Os quilos a mais na gravidez nunca tiraram o meu ritmo acelerado e boa disposição: andava de bicicleta, subia em muros, corria, contava piadas... continuava a ligeirinha de sempre, embora mais rechonchuda. Quando nasceram os rebentos, encarei a função com bom humor e leves pitadas lúdicas. Meus filhos, em minhas mãos,  pareciam brinquedos:  petecas jogadas para cima;   bonecos  segurados  de cabeça para baixo ou girados como pião; fazia o papel de trator e rolava por cima deles (com os devidos cuidados para não os machucar, claro!); brincava de cavalinho pela casa;  gostava também de equilibrá-los em meu joelho;  apostava corrida e permitia que ganhassem de mim;  carregava-os no pescoço;   outras vezes, fingia que ia embora e me escondia para ver a reação deles. Tudo era válido como entretenimento, até absurdos como gincanas de peidos ou arrotos eu propunha e , nesta virtuosa  categoria, eu era invencível.

Quem conhece o meu lado sério e comprometido com as atribuições,  até duvida de que eu seja capaz de protagonizar cenas dessa natureza, porém, afirmo com propriedade, que tanto o riso quanto o siso compõem a minha essência e, em fragmentos pertinentes atuam, reagindo coerentes às situações. (Não esquecendo de que um dos itens é mais predominante).

Sou brincalhona, arteira, travessa e meio maluca, sim senhor!  E admito que as peraltices dos meus filhos,  já descritas em tantos textos,  não aconteceram por acaso: como bons discípulos, observaram  “meu  comportamento exemplar” e o absorveram, acrescentando-lhe peculiaridades.

Portanto, a travessura é bem-vinda, não escolhe lugar nem hora, simplesmente acontece e torna mais feliz aquele(a) que a pratica sem cerimônia. Não há preço para a sensação de liberdade e o descompromisso com preceitos inúteis. A preocupação com a opinião alheia poda o livre arbítrio e engessa a criatividade. Por mais séria que se leve a vida, é fundamental que se abra espaço para a descontração; isso traz leveza e renova as energias, além de divertir, lógico. Por acaso existe limitação às aptidões inatas? Como autêntica louca de bom juízo,  desconheço e/ou ignoro...


Zizi, 10/12/2016

Nenhum comentário: