Tema: O primeiro dia na escola do meu filho
texto publicado em 04/04/2016 no blog:
http://materna-idade.blogspot.com.br/2016/04/se-as-paredes-falassem_4.html
Nós, mães, somos “experts” em solicitar
parcerias em prol dos nossos pequeninos. Depois que eles desocupam o santuário
uterino, dá-se início a uma jornada com plantão 24 horas. Os principais aliados
que nos apoiam nesse momento estão por perto: pai, avós, tios(as). Tantos olhos
e braços em alerta somados aos meus deveriam ser suficientes, no entanto, não impedem que alguns imprevistos
escapem.
Depois que cessam as fraldas, concomitantemente os passinhos exploram
cada centímetro e ângulo da casa, as mãozinhas buscam a textura de tudo à sua
volta. A partir daí, as paredes transformam-se em telas gigantescas
simplesmente porque os pequenos artistas decidiram montar seu ateliê nas
dependências do lar, pois precisavam extravasar o ato criador e não havia papel
que chegasse.
Quando nossa casa vira um afresco, é sinal de que um novo capítulo se
inicia, marcando o próximo desafio.
Sozinhos, não estamos preparados para lidar, aprimorar e direcionar tanta
criatividade infantil. Precisamos de um perito que saiba direcionar os traços
pictóricos em algo mais palpável e inteligível. Por trás daqueles hieróglifos
enigmáticos escondem-se letras, sílabas e palavras terrivelmente ansiosas para
serem decodificadas.
A ideia de matriculá-los em uma
escolinha apeteceu-me então. E assim foi feito. Essa nova parceria tornar-se-ia
crucial para a descoberta de um propósito cujo desenvolvimento já estava a
caminho.
Uma das minhas preocupações foi encontrar uma escolinha que se parecesse
com uma casa. Assim, o ambiente não mudaria tanto aos olhinhos deles e a
adaptação seria mais fácil. Fui levá-los, pois naquela época o tempo era meu
aliado com dedicação plena e exclusiva aos meus filhos.
O amor de mãe, embora intenso,
provoca emoções paradoxais. Por mais que concordemos que a escola é
necessária não só para o primeiro contato com as letras, mas também para
desenvolver a individualidade, a socialização, interação, vivenciar novas
situações, enfim, um preparo para a vida, essa “quebra parcial do vínculo” dói
e nos incomoda a ponto de deixar-nos inseguras e até chorosas quando vemos
nossa cria pronta para a luta com a mochila nas costas.
Não foi fácil vê-los encarar, pela primeira vez, a escolinha. Da parte
deles, receberam a notícia sem resistência, com sabor de aventura, pelo menos
nos primeiros dias... Depois que perceberam que era “pra valer”, passaram a inventar
desculpas, fazer manha e usar artifícios de chantagem para reduzir a
assiduidade. Todavia, o livre arbítrio estava descartado. Não havia outra opção
a não ser entrar no ritmo e aproveitar melhor essa nova missão.
Tentando buscar mais detalhes que enriquecessem meu relato, perguntei aos
dois protagonistas desse enredo quais lembranças tinham ficado do primeiro dia de aula. Se para eles foi
difícil resgatar fatos ocorridos há, mais ou menos, 25 anos, imagine para mim. Mesmo assim comentaram alguns aspectos os
quais eu conhecia e já estavam aqui registrados sob o olhar singular dessa mãe
que enxerga seus filhos do jeito que o coração permite.
Tanto eu quanto eles sabemos que o
compromisso com o futuro começou ali, naquelas salinhas com outras crianças, em
meados de 1990. O resultado é mais que positivo, é gratificante. Hoje, com
orgulho, olho para um engenheiro e uma geógrafa diante de mim, ambos lindos e
cheios de responsabilidades, construindo suas vidas com uma riqueza que transcende
qualquer outra: o saber.
Em suma, o contexto escolar foi um terreno bem fértil para tantas histórias que vão da comédia ao drama: que o Danilo levou um cadeado para colocar na orelha do coleguinha e o perseguiu durante o intervalo e a Patrícia mostrou que tamanho não era documento reagindo com a mesma moeda a uma agressão física de uma amiguinha de sala, são assuntos para um outro post, quem sabe...
Zizi, 03/04/2016
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