Texto publicado no blog
http://materna-idade.blogspot.com.br/2016/03/eminentes-micos-maternos.html dia 21/03/2016
Tudo começa com um
“sim”. E dessa junção de seres, outros contextos se formam recheados de novos
integrantes com suas peculiaridades. Nem fazemos ideia do que nos
aguarda... Se estamos ou não preparados para
os imprevistos decorrentes das aventuras maternas, como saber sem
experimentá-las? Então, aceitamos o desafio.
Para quem já caiu da
ponte em um rio enquanto pedalava uma bicicleta; despencou de uma árvore ao
tentar saborear uma fruta amadurecida no pé; não conseguiu galopar e caiu do
cavalo; ficou presa na porta do ônibus porque o motorista a fechou com
antecedência; tomou um banho de lama ao cair da moto com o namorado; saiu
apressada para o trabalho e nem reparou que a roupa estava do lado avesso; percebeu que fora roubada no ônibus no
momento de pagar a passagem; foi passar a roupa para a futura sogra e queimou
algumas peças; virou piada na família depois do infeliz comentário que fez ao
ver, pela primeira vez, um pé de
jabuticaba: ”Nossa, jabuticaba dá no pau”!!...etc...etc...etc Não seria tão difícil encarar mais emoções
envolvendo novas criaturinhas que, a seu tempo,
certamente chegariam.
Depois da troca de
alianças no altar e as comemorações posteriores, passei de menina à mulher e
fui fazer jus às promessas proferidas naquele 31 de julho de 1982. Em poucos
anos, as palavras “crescei-vos e multiplicai-vos” ganharam significado em casa
na forma duas bênçãos: Danilo e Patrícia.
Ele: inteligente,
esperto, inquieto, curioso, traquina, andou aos nove meses e antes de completar
um ano já falava feito uma matraca. Um projetinho ligado nos 220 v. que pôs um
ponto final no meu sossego! Não podia tirar os olhos desta criatura tão
dinamicamente minha. Devido ao seu gênio docemente indomável, alguns micos tornaram-se
inevitáveis e ao mesmo tempo previsíveis; cabia a mim ou ao pai, arcar com as
explicações.
Um deles ocorreu na
igreja, durante a cerimônia da missa. Enquanto o padre discursava e os fiéis o
ouviam, meu filho o observava, e de repente saiu em direção ao altar, sem aviso prévio. Parando em frente ao
vigário, abaixou-se e ergueu a batina deste. Provavelmente ficara intrigado com
o uso daquela vestimenta típica e quis verificar o que havia por baixo dela.
Desconcerto geral na cerimônia, não havia quem não risse. O que poderíamos
fazer para reverter o vexame? Nada! Só desculpas balbuciadas e recolher o
menino ao colo.
Dali a quase dois anos
chega ela: a pequena notável demonstrando desde já suas peripécias e
habilidades. Esta, além de elencar as mesmas qualidades do irmão formando um
par perfeito (para a minha alegria), acrescentou uns detalhes que me deixaram
fora de órbita: não tinha trava na língua e colocou-me em saias justas diversas
vezes. Dizia sempre o que pensava, doesse a quem doesse. Em alguns momentos,
ela também expressava seus dotes artísticos: desenhava as pessoas e as
presenteava. Tais ilustrações eram ricas
em detalhes naturais, ou seja, nuas. Faltavam-me as palavras para justificar
sua originalidade.
Tão articulada era essa
menina que, na escola, quando escrevia
textos, as professoras se recusavam a aceitá-los alegando que tinha sido feitos
por mim, por conter ideias muito maduras para a idade dela. Como eu iria provar
que a pequena era autossuficiente? Só eu sabia que sim.
Certa vez, na mesma
igreja em que o Danilo erguera a batina do padre, estávamos lá novamente em uma
cerimônia de Primeira Comunhão da Patrícia. O padre fez o seu discurso em
homenagem aos participantes daquele ritual religioso e, dirigindo-se às
crianças, perguntou se alguma delas gostaria que sua mãe, representando as
demais, viesse à frente e proferisse uma
mensagem. Estavam presentes diversas crianças, porém, de onde eu estava,
escutei uma vozinha familiar dizendo: “EU”. Perante uma igreja lotada, seria
indelicado recusar um pedido desse. Trêmula e gelada pelo imprevisto, respirei
fundo e fui, nem me lembro do que disse. Vítima da boa intenção e inocência de
minha filha, paguei o maior mico, pois
sou tímida.
Embora ficasse
desestabilizada com as situações embaraçosas que meus rebentos me preparavam, eu amava aquelas traquinagens
e me divertia junto. Entretanto, o tempo
vai estendendo, apressadamente, seu
tapete cronológico sem pedir licença e insere aqueles pedacinhos da gente no
mundo adulto. Se precisasse, eu faria tudo novamente. Valeu a pena cada mico!
Zizi, 21/03/2016