A
espetacularização midiática de cada dia
Este
texto pretende discorrer e refletir sobre a relação intrínseca entre a
linguagem, a cultura e a mídia, e de que
forma elas se inserem nessa realidade digital e tecnológica caracterizada
pelo século 21, período também marcado
pela globalização.
Os recursos tecnológicos adentraram os mais
diversos espaços (casas, escolas, hospitais,
estabelecimentos comerciais e culturais, locais de lazer, etc.), com uma proposta sedutora de facilitar a vida
das pessoas e conquistaram, desse modo,
a confiança delas.
Até pouco tempo, cerca de 20 anos, a vida não
era difícil sem os apetrechos modernos que hoje preenchem as prateleiras das
lojas e os armários e as estantes das casas. Para muitos que nasceram nesse
contexto, essa revolução tecnológica não os assustam, mas há outros que
precisaram passar por um processo de adaptação. Para esses, o “ajuste” é contínuo, visto que a
cada dia novos termos são criados e, junto
com eles, as possibilidades de
construção de sentido se multiplicam.
Os gêneros textuais são um bom exemplo disso,
pois eles representam toda e qualquer manifestação comunicativa. Segundo Braga;
Buzato,2001,
Gêneros digitais são ferramentas
semióticas e cognitivas
que permitem às pessoas transformarem-se em sujeitos da/na cultura digital,
capazes de utilizar sua linguagem produtivamente, para preservar ou modificar o
mundo à sua volta.
Se antes havia somente os gêneros orais e escritos;
hoje, uma nova categoria está presente e ocupa um lugar significativo no espaço
virtual: a digital, fundamental para a atuação dos blogs, sites, fóruns,
ambientes virtuais de aprendizagem(AVA),Chat, Glossário, quiz, etc. Dialogando com a maioria dos gêneros digitais está a hipermídia,
(ou multimídia interativa) [...] é o conjunto
de meios que permite acesso simultâneo a textos, imagens e sons de modo
interativo e não-linear, possibilitando fazer links entre elementos de
mídia, controlar a própria navegação e, até, extrair textos, imagens e sons
cuja sequência constituirá uma versão pessoal desenvolvida pelo usuário.
(GOSCIOLA, 2003, p. 34)
termo adequado e preciso que surgiu concomitante à era digital, representada pelos games, simuladores, os ambientes virtuais
interativos, as multimídias interativas, os websites, mídias com filmes em DVD,
dentre outros.
Existe, outrossim, a hipermodalidade que consiste em explorar bem
os recursos visuais, sonoros, até mesmo o olfativo, palatal, tátill, na criação e edição de vídeos que articulam
bem o verbal e o não verbal.
Os vídeos de
Chico Science e Nação Zumbi Mangue Beat, ilustram
bem essa afirmação, sobretudo quanto ao aspecto visual e sonoro que
produzem, pois exibem um tipo de sincretismo
cultural envolvendo: dança, ritmo, música
e vários instrumentos musicais de
origens diversas.
Da soma de todo esse conjunto formou-se uma nova tendência cultural conhecida por “Manguebeat (também
grafado como manguebit ou mangue beat) é um movimento musical
que surgiu no Brasil na década de 90 em Recife que mistura ritmos
regionais, como o maracatu, com rock, hip hop[1], funk e música eletrônica”. O ritmo alegre e bem
dinâmico das letras e da música atrai os
jovens e o número de admiradores tanto do Brasil quanto do exterior tem
aumentado.
Não há como negar a conveniente participação da
mídia na divulgação das manifestações culturais populares. De um lado, ajuda a preservar tais elementos e
difundi-los em outros contextos geográficos, mas, por trás há um motivação
maior, alimentada pelo interesse
financeiro em trazer para cá investidores e mais turistas.
A mídia consegue, inclusive, manipular os pensamentos, as atitudes, os
valores com imposições sutis recebidas passivamente pelas pessoas como verdades
absolutas. Ela patrocina e transforma em espetáculo qualquer cena (das patéticas,
bizarras, às emocionantes e belas) , desde que a favoreça. Segundo
Trigueiro(2005), é a “espetacularização
das culturas populares ou produtos folkmidiáticos”. Ele observa também que
Em outra perspectiva da
folkcomunicação tenho pesquisado sistematicamente os
processos de apropriação
e incorporação das
manifestações culturais populares
pela mídia e, em
movimento inverso, como
os protagonistas das culturas populares se apropriam das
novas tecnologias para
reinventarem os seus
produtos culturais. Essas aproximações, das culturas populares
e midiáticas no mundo globalizado são cada vez mais intensas.
Devemos à globalização o livre acesso das
pessoas às informações, sejam de ordem econômica, social, cultural, política, através da Internet. Entretanto, impossível captar todas elas. Segundo o
filósofo francês Pierre Lévy, há um “dilúvio de informações” e cabe às pessoas fazerem uma seleção do que
realmente precisam ou interessam.
Em vista
disso, há como aproveitar melhor essa “avalanche de dados e conhecimentos”,
afinal, aprender a ser seletivo é uma necessidade do momento, ainda mais para
profissionais da educação que vivem em busca de algo novo que “incremente” as
aulas e traga bons resultados.
Um projeto
interdisciplinar seria uma forma perfeita de apresentar o “Manguebeat” aos
alunos, principalmente os de Ensino Médio. Como é novidade (para eles),
certamente, despertaria sua atenção e participação nas atividades orais e
escritas que viriam a seguir no desenvolvimento do projeto na escola.
Depois de
assistirem aos vídeos com algumas
apresentações de “Manguebeat”, seria feito uma exposição oral para contextualizar
os alunos. Em seguida, cada disciplina
trabalharia o tema dentro da sua área;
por exemplo: Arte exploraria o ritmo, a dança, os instrumentos;
História o contexto histórico de cada
ritmo envolvido, festas; Geografia
focaria a expansão urbana dos respectivos ritmos; Língua Portuguesa: as produções dos poemas
musicados, sua estrutura,interpretação dos textos, significado do título do
movimento, a linguagem dessas produções;
Educação Física: os movimentos que compõem as danças, etc. Esses
trabalhos seriam expostos em um painel no pátio e também no blog da escola ,
utilizando, para isso, os recursos
disponíveis através da hipermodalidade e da hipermídia , explorando os gêneros
digitais aqui mencionados.
Em suma, há
infinitas possibilidades de agrupar e abordar em trabalhos escolares:
tecnologia, internet, mídia e educação, de forma criativa e crítica, garantindo, assim, um crescimento intelectual
dos envolvidos (professores e alunos), com resgate de valores culturais
desprovidos daqueles estereótipos que reduzem o ser a uma mera coisificação.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
TRIGUEIRO, Osvaldo Meira. A
espetacularização das culturas populares ou produtos culturais
folkmidiáticos. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/trigueiro-osvaldo-espetacularizacao-culturas-populares.pdf Acesso 24/09/2012
BRAGA, D. & BUZATTO, M. Multiletramentos,
Linguagens e Mídias - Tópico 2 – Interatividade,
hipertextualidade e multimodalidade, do TEMA 2 – A linguagem nos/dos novos meios - Campinas, SP:
UNICAMP/REDEFOR, 2012. P. 01/08. Material digital para AVA do Curso de
Especialização em Língua Portuguesa REDEFOR/UNICAMP. Acesso em 24/09/12.
Vídeo
Chico Science e Nação Zumbi Mangue Beat -
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=WaEOqBKUVVw
– Acesso em 24/09/2012
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