Acalanto
Se as mães que estão vivenciando a linda fase da infância junto a seu filho, acham difícil selecionar, entre tantos, um momento especial para um registro; imagine eu, com a linha do tempo um pouco mais estendida e os filhos adultos que já criaram asas e voaram do meu ninho!
Não quero com isso dizer que não me lembro, ao contrário; são tantas lembranças que mal cabem nessa esfera achatada conhecida como cérebro. Não me custa nada vendar os olhos, girar em círculos e lançar o meu anzol em direção a esse cardume (Afinal eu contribuí, efetivamente, para essa farta pescaria). Vamos lá: Zip-zup!!
Um choro interrompe e bloqueia os pensamentos desta mãe que transformou os fragmentos do dia em tempo integral para sua prole. O período entre as alimentações, as trocas de roupas, os banhos, os cuidados, os carinhos, as brincadeiras, monopolizam as horas e, assim, já anseio por um merecido repouso, concedido (talvez) quando aquela pequena criatura decidir cair nos braços de Morfeu.
Espera em vão. Quem disse que ele dispensaria aqueles mimos todos para imergir no mundo onírico? Para que, se o colo quentinho e macio já fornecia, gratuitamente, o que ele precisava?
Eu, porém, finjo ignorar essa teimosia retratada naqueles olhinhos brilhantes e mãos inquietas. Pacientemente, o acomodo nos braços e percorro, devagar, os metros quadrados do dormitório, alcanço o corredor que dá acesso à cozinha. Viro-me e faço o mesmo trajeto de volta: uma, duas, três, quatro, cinco....dez vezes (ou mais)
...E a saga continua, realçando seu caráter lírico e épico. Tudo indica que o minúsculo e ousado adversário propôs um desafio impossível de ser recusado e que requer uma tomada de atitude instantânea e eficiente. (Pelos vistos, tamanho não é documento mesmo!)
O tic-tac do relógio caminha desprovido de parcialidade. Não há ao que, nem a quem recorrer. Na pequena arena do quarto-corredor-cozinha estão somente os dois, sem platéia. Contudo, antes de levantar a bandeira branca para a rendição, apelo para um último recurso: embalar com música. Mas qual delas: infantil, romântica, sertanejo, gospel, valsa..? Escolha aleatória, desde que funcione. Cantarolei, então, a primeira que veio à mente. Uauu, deu certo! Por isso, a mesma melodia, depois, virou canção de ninar e propagou-se nos dias e dias seguintes. Até que...
Cumprindo mais uma etapa meu do dia, eu estava novamente acalentando o meu pequeno com o mesmo sonífero musical. Por algum motivo (que não me lembro), parei num determinado ponto da música e me calei. Qual a minha surpresa: o pequenino continuou o verso e o finalizou. Reiniciei o segundo verso com duas palavras e o deixei concluir. Fiz isso até o final da música e descobri que ele havia memorizado toda a letra. Achei o máximo! Vibrei! Contei para todos. Precisava compartilhar esse momento que era grande demais para ser só meu.
Adorei vê-lo fazendo isso. Aquele pedacinho de mim já iniciara sua contínua evolução, suas descobertas, com as mãozinhas emboladas em meus cabelos, ouvidos atentos, olhinhos confiantes, respiração suave. Estava em paz e seguro ao som de uma singela canção de ninar.
Zizi, 11/11/11
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