A percepção do estético
Muitos escritos tentam definir o que é literatura e ressaltar a sua importância na vida das pessoas. Entretanto tais conceitos são distintos, considerando o olhar subjetivo que cada um tem acerca do tema.
Para uns, a ênfase é atribuída ao estilo do escritor/poeta, ao trabalho artístico com as palavras; para outros, o que mais importa é a identificação do tema com o leitor, visando ao lucro apenas, deixando em segundo (ou terceiro) plano questões linguísticas e artísticas.
Foi com base nesses valores culturais que os jornais The Washington Post e Folha de S. Paulo realizaram uma experiência parecida para testar se as pessoas reconheceriam ou não, de forma incógnita, um músico famoso (Joshua Bell) tocando seu violino numa estação de metrô; e o envio de uma obra literária de autor consagrado(Machado de Assis) assinado com outro nome, com pedido de publicação em várias editoras.
O resultado, todavia, foi negativo. As pessoas, no metrô, não pararam para apreciar a obra musical, embora gratuita. As editoras, simplesmente, devolveram o romance denominado “Casa Velha”(Publicado em 1885). Algumas até se preocuparam em apresentar uma pequena justificativa, embora vaga, sobre a recusa do material, outras simplesmente ignoraram.
Ora, se Machado de Assis é considerado um dos maiores escritores brasileiros, fundador da Academia Brasileira de Letras, como pode ser recusada uma das suas produções? A única justificativa plausível, nesse caso, é a ignorância daqueles intitulados “especialistas”, que não reconheceram ali uma produção do grande escritor. As editoras possuem um critério, embora subjetivo, para a seleção das obras enviadas que serão publicadas. Ou seja, tudo vai depender do olhar e da boa vontade daqueles encarregados de atender aos objetivos da empresa e também do público alvo. Uma produção de autor desconhecido, com linguagem rebuscada que nos remetem ao passado não seria nada atraente e nem lucrativo para a editora. Daí o descaso da obra machadiana.
A estação de metrô é um espaço no qual as pessoas utilizam apenas como trajeto em que há meio de transporte que as conduzirão ao destino, portanto estão sempre com pressa e não há tempo nem lugar para o lazer ou apreciação cultural.
Isso significa que uma apreciação e reconhecimento justo de produções culturais requer um contexto adequado. As pessoas se programam para tal. Não está relacionado com nossos instintos e sim com o lado racional o qual se prioriza as necessidades e o condicionamento do dia-a-dia exigidos pelo próprio sistema em que estamos inseridos. É lamentável imaginarmos que tantas obras foram ignoradas ou extintas porque intitulados “especialistas”, talvez desprovidos de sensibilidade ou de desconhecimento de causa, não lhe atribuíram o devido valor.
Zizi, 08/10/11
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