As palavras e seu trajeto
Tudo começa com um choro, essa sirene que anuncia a chegada do bebê. É a primeira manifestação da linguagem. A princípio, esse ruído harmonioso cheio de significados e intenções parece ter uma nota só (looonnnga!). Mas, o instinto materno vai aos poucos decifrando todos os tons e códigos, em cada situação em que ele aparece: fome, manha, dor... Chegando ao ponto de captar e compreender até mesmo aquele choro que ficou preso, acuado.
Objetivo número um concluído: primeiro contato ocorrido com sucesso. Yesss!
Depois de superada a fase um, vem o próximo desafio: diálogos em forma de monólogos vão tentando provocar uma reação nos pequeninos. Quem sabe, aquelas palavrinhas distorcidas e tão cheias de afeto que emitimos, conseguirão encorajá-los para que as repitam? Tentativas é que não faltam. Não custa nada insistir.
Já conseguimos a atenção deles, pois olham-nos fixamente, sorriem, mexem a boca, tentam e soltam alguns ruídos guturais. Já é um começo. Vibramos. Insistimos. Queremos mais. Simpatias são sugeridas. Por que não?
E assim são consumidos minutos e minutos com tentativas incansáveis acompanhadas de uma incrível expectativa de se ouvir a primeira palavra proferida daquele Serzinho tão especial!
Um belo dia, consegue ir mais além e articular a primeira palavra. Sai meio indecisa, meio tremida, incompleta. Não tenho certeza se foi “papai” ou “mamãe” porque ambas estiveram sempre juntas. Só sei que depois disso, deu-se início a uma avalanche delas, obedecendo à sequência: sílaba, palavra, frases curtas, períodos compostos... Depois: decisões, argumentos e contra-argumentos, reflexões, questionamentos, relatos, sugestões, críticas, elogios, determinações ...etc. [...]
Fecho os olhos para ingressar numa rápida viagem pela memória. Ainda ouço as palavras que povoavam e davam muita vida a esses cômodos: os gritos, as brincadeiras, as provocações, as conversas banais, a cumplicidade, as simulações de briga, as músicas que cantavam juntos, os pequenos pedidos que iam desde um acordar à noite para pedir algo, ao simples “Bênção, mãe!” , ao despertar. Fazem falta aqueles zunzunzuns que ecoavam do amanhecer ao anoitecer e preenchiam a casa de um canto a outro.
Hoje, 27 e 25 anos depois, Danilo e Patrícia, já adultos, passaram de passageiros a condutores e estão construindo seu próprio itinerário. Eu, cá no meu cantinho, olho para o telefone na esperança de que um “trimmm!” traga, pelo menos, dois dedos de prosa. É Tão bom ouvi-los!
06/08/2011 Zizi, mãe-fã do Danilo e da Patrícia
Um comentário:
Zizi,
Quanta sensibilidade nas suas palavras! Elas trazem identificação a nós, mães, como você, e lembranças da trajetória de criação dos filhos... Essas pequenas coisas, tão significativas, que muitas vezes no momento da vivência nos parecem corriqueiras, voltam nos pensamentos e nos mostram como a maternidade realmente é mágica e divina. Obrigada por instigar essas lembranças! Lia
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