(Obs: Esse cordel faz parte de uma peça de teatro que insere personagens do folclore para o mundo real para vivenciar situações de bullying)
I
Sou um grande personagemDo folclore brasileiro,Na lenda eu sou chamadoNegrinho do pastoreio.Quem se lembra da história,Se tiver boa memória,Saberá o fato inteiro.
II Mas, não pensem que migreiDa lenda ao mundo real,Para ficar remoendoAlgo que me fez tão mal.Não se muda o passado,Tudo vira aprendizado,E a vida segue, afinal. IIINão gosto de confusão,Sou uma pessoa do bemCom boa disposição,A procura de alguémPra firmar uma amizade,Pois aqui nesta cidadeEu não conheço ninguém.
IV Sou cabra lá do nordeste,Vim da roça, do sertão,Conheço as dificuldadesPra conseguir ganha-pão,O sertanejo é um forte,Seja qual for o seu porte,Preguiça, ele não tem não.
V Viajei para São Paulo,Buscar a sobrevivência,Aceito qualquer trabalho,Desde que tenha decência.Peço uma oportunidadeDe mostrar nesta cidadeToda a minha competência. VIMas, aqui fui perceberQue estou em desvantagem,As pessoas avaliamComo é a sua imagemOlham a cor ou etnia,Tratam-nos com ironia,Zombam da nossa linguagem.
VII Não nos chamam pelo nome,Pois preferem apelidar:Baiano, cabeça chata,Isso é só pra começar.Julgam que nada sabemos,Não aceitam o que temos,Recusam-se a respeitar. VIIISão palavras e atitudesQue alimentam o preconceito, Causando constrangimento,Tirando-nos o direitoDe ser livre pra escolherComo e onde vou viver,Sem mudar esse meu jeito. IXDeviam reconhecerQue justo a diversidadeÉ que enriquece o BrasilNa sua totalidade,Pois aquele “diferente”,É mais um ingredienteDa nossa autenticidade.
XMinha pele e meu sotaqueTornam-me especial,Represento um povo forteNo contexto social,Que ajudou a construirE lutou pra conseguirEste Brasil ideal. Zizi, 05/08/2018