Tema: Ele(a) não come de jeito nenhum!
Os olhos brilham sincronizados com um largo sorriso, um
suspiro aliviado expressa a satisfação do dever cumprido e um ar de felicidade
toma conta daquele rosto de mãe cujo filho comeu toda a refeição que lhe foi oferecida.
Essa preocupação com a ingestão de alimentos saudáveis,
entretanto, tem início bem antes dele vir ao mundo. Durante a gravidez, geralmente a mãe busca
enriquecer sua dieta incluindo mais frutas, legumes, verduras para que o bebê
seja favorecido.
Depois do nascimento, o período da amamentação ocorre sem
maiores preocupações porque o leite
materno é completo e possui uma temperatura ideal. O choro da criança é o indicador
da fome e assim a mãe fica à disposição da prole.
Passado essa fase mais tranquila, dá-se início ao segundo
momento cujo desafio maior é transformar a teoria aprendida nos livros, revistas,
vídeos, etc. em práticas cotidianas, pois há uma grande risco de nos depararmos
com um serzinho cheio de vontades opostas às nossas. A partir daí, tem início
um drama que dura e perdura por tempo indeterminado.
Quando pequenos, somos nós que damos as cartas, mesmo assim
eles não querem entrar no nosso jogo; quando crescem e se tornam adultos, passam
de objetos à sujeitos e nós, mães, meros termos acessórios. Não desistimos deles
mesmo assim. Nosso olhar atento observa, opina, discute.
Assim surgem os relatos saborosos, cujos detalhes o tempo não apaga...
Quando nasceram, meus pequenos não tinham um peso digno de
despreocupação, pudera! Um pesou 2,500 kg (Danilo) e a outra 2,300kg (Patrícia), ambos com 46 cm
de comprimento. Os quilinhos a mais que ganhei nas duas gestações eram somente meus. Perguntaram-me, na ocasião, se eu era fumante ou se eles nasceram
prematuros devido à fragilidade que apresentavam. Duas hipóteses negativas e
absurdas que desencadearam em mim uma inquietação muito maior com relação aos
alimentos que deveria oferecer a eles para suprir uma (possível) desnutrição.
Danilo sempre foi enjoadinho para comer. Foi amamentado até
os seis meses, mas sempre aquele drama: mamava pouco e não tinha horário certo.
Como reforço, depois de alguns meses, apelei para a mamadeira, porém o sucesso
não veio junto. Ele só tomava a metade e eu tinha que jogar fora o restante do
leite todos os dias. Resolvi, então, colocar meia mamadeira, evitando assim o
desperdício. Ele observava a quantidade de leite e vendo que estava pela
metade, a recusava, talvez acreditando que já havia tomado a outra parte. Que ossinho
duro de roer!!! A sopinha de legumes também não era de seu agrado. Lá em casa
havia pratinhos térmicos com peixinhos que
se mexiam, colher de aviãozinho...só estratégias para convencê-lo a
comer um pouquinho que fosse.Todavia, só
faziam efeito nos primeiros dias. Frutas: só raramente; sucos: um ou dois goles
forçados. Enfim, tudo que era natural e saudável ele não dava a mínima. Mas
havia algo que gostou quando conheceu e até hoje lidera suas preferências
gastronômicas: churrasco! Quer fazê-lo
feliz? Dê-lhe carne, muita carne!! Continua não sendo fã das verduras; quanto
aos legumes, apenas o brócolis ninja é aceito como acompanhante em uma
refeição. O papel de mãe insistente e de oferecer cardápio
variado eu fiz durante a infância e adolescência
do Danilo e, ainda na fase adulta,
de vez em quando eu pratico para não
perder o hábito(rss)
A pequena chegou bem miúda e, para meu desespero, seu
apetite era proporcional ao seu peso e tamanho. Eu já tinha experiência com o
Danilo e me empenhei no sentido de inverter aquele quadro. Levei-a ao
pediatra em busca de melhores
orientações para que ela ganhasse mais peso. Ele recusou-se a passar alguma
vitamina porque afirmava ser desnecessário e ainda disse que não havia motivos
para preocupações, pois a criança era saudável. Apenas sugeriu um cereal infantil (Mucilon) no
leite depois que ela completasse cinco meses. Apresentei a ela também o
cardápio das sopinhas, dos sucos, frutas, da mesma forma que fiz com o Danilo. Essa
apreensão atiçou minha criatividade culinária porque eu estava determinada a
fazer a Patrícia ganhar uns quilinhos. Não posso afirmar que obtive a vitória
de início, pois ela passou a infância e adolescência com aquele corpinho de Barbie.
Por outro lado, anos depois, tornou-se
fã das verduras cruas ou cozidas, dos
alimentos naturais, das comidas caseiras leves ou pesadas, das carnes cozidas
ou assadas, sopas, sucos naturais, leite, massas, doces ou salgados Enfim, ela se
aliou a esses alimentos por conta
própria quando reconheceu o sabor e a
importância deles na sua alimentação. E isso foi essencial, pois mora sozinha e
adora inventar pratos.
Meu maior prazer é vê-los em minha casa, assentados conosco à mesa para um almoço ou
jantar. Não economizo nos mimos, como: pratos favoritos, bolos ou doces, além
de beijinhos e abraços, lógico! Entretanto, fico atenta aos exageros porque sei
que existem consequências danosas oriundas de uma alimentação inadequada,
afinal “Somos aquilo que comemos”, não é o que dizem?
Zizi, 28/07/2016